Correio Popular
- Campinas 03/08/2004
Só música bem brasileira

por: Carlota Cafiero
Da Agência Anhangüera


Gravadora, editora e distribuidora independente
Maritaca aposta em talentos que estão entre
o Consagrado e o Novo

"A Maritaca sou eu". A frase pode soar estranha, mas a flautista Léa Freire justifica: foi ela quem fundou e administra, há sete anos, a gravadora, editora e agora distribuidora independente Maritaca, em São Paulo; e também é quem escolhe e produz os artistas que têm a "cara da gravadora". Que cara? "Bem brasileira, com belas harmonias e melodias", responde Léa.

Pois as caras que a gravadora lança este ano estão entre o erudito e o popular, o consagrado e o novo: Theo de Barros, Arismar do Espírito Santo, Filó Machado, e a cantora Guzzi. Fundada com o objetivo de lançar artistas com trabalhos instrumentais, a gravadora não faz mais distinção entre o que é instrumental e o que é cantado. "A voz também é um instrumento, e o cantor também é um músico, portanto, tudo é instrumental", ressalta.

A Maritaca vive um momento de expasão. Transformou-se em distribuidora este ano ao atingir um catálogo desejável para tanto: 14 CDs lançados. Mas a divulgação continua sendo o maior obstáculo para a gravadora (e para a maioria independente como ela). "Nós não tocamos no rádio nem na TV porque as multinacionais (Warner, Sony, BMG, Universal e EMI) que mandam no mercado fonográfico do País controlam jornais, rádio e televisão", lamenta.
Contradição: as cinco multinacionais lançaram juntas, entre janeiro e junho deste ano, cerca de 48 álbuns de música brasileira, enquanto as gravadoras nacionais e independentes somaram 276 lançamentos. Os números estão nas reportagem publicada no jornal Hora do Povo (publicação do instituto Brasil de Comunicação Social, de São Paulo), em 16 de julho de 2004 (leia texto nesta página).

Chega-se à conclusão de que as gravadoras nacionais e internacionais são sinônimo tanto de qualidade quanto de quantidade. "Mas, com um instrumento poderoso como o jabá (gravadoras que pagam às rádios e programas de TV para que toquem seus artistas) fica difícil colocar nossos lançamentos na mídia", diz Léa. "O Brasil é o maior celeiro musical do mundo, quiça da galáxia, e você liga o rádio e sempre ouve as mesmas coisas. A censura cultural funciona, hoje, através desse tipo de controle.

A Maritaca ataca em rádios alternativas como a Cultura FM, a USP FM e a Trianon AM (em São Paulo) e a Catedral FM, no Rio de Janeiro. :São rádios que aceitam tocar nossos artistas, mas o lado ruim disso é que o público fica super segmentado. O ideal seria que os ouvintes tivessem o máximo de opções para poder escolher. Afinal, quem define o que é bom ou não é o público mesmo. Até o ministro (da Cultura Gilberto Gil) diz que música ruim também é cultura.

Por enquanto, as ferramentas que a Maritaca tem para atingir o público são a mala-direta, o telemarketing e uma grande festa de lançamento por ano, como a realizada em maio no Sesc- Pompéia, com Theo de Barros, Arismar do Espírito Santo, Guzzi e Filó Machado. "Dessa forma, conseguimos algumas reportagens", explica Léa, que até o final do ano, quer trabalhar em seu CD.


Grandes nomes seguem a tendência
Ano passado, Milton Nascimento e Paulinho da Viola se desligaram das gravadores Warner e BMG respectivamente, e a Sony Music não renovou contrato com João Bosco. A mesma BMG também perdeu as cantoras Gal Costa, que foi para a Indie Records, e Maria Bethânia, que migrou para o selo Biscoito Fino. Este ano, Djavan criou o próprio selo, Luanda Records, pelo qual lançou Vaidade.

Esses são alguns dos grandes nomes da música brasileira que já integraram os catálogos das multinacionais, mas foram demitidos ou preferiram se demitir para seguir em selos, gravadoras ou distribuidoras independentes que respeitam a criatividade do artista e são, hoje, responsáveis pelo crescimento do mercado fonográfico nacional e pelos melhores lançamentos em MPB.
Entre elas destacam-se a Trama (Pífanos de Caruaru), Biscoito Fino (Brasileirinho, de Maria Bethânia), Velas (Noturno Copacabana, Guinga), Indie Records (Todas as Coisas e Eu, Gal Costa), Lua Records (A Flor e o Espinho, Guilherme de Brito), Rob Digital (Ouro e Sol, Lui Coimbra), além da Maritaca, Kuarup, Lumiar Discos, Kalimba, Maianga Discos, MZA, FNM, Atração Fonográfica etc.

De janeiro a junho de 2004, a Universal lançou 12 CDs de MPB. A Biscoito Fino, gravadora nacional, criada a cerca de cinco anos, lançou 19, revelando a força das pequenas diante das majors. Porém, segundo Léa Freire, fundadora da Maritaca, a divulgação ainda continua sendo o maior problema enfrentado pelas independentes, já que a prática criminosa do jabá ainda é uma constante nas rádios e na TV - segundo André Midani, alto executivo do mercado fonográfico naciona, em reportagem publicada no jornal Hora do Povo, do Instituto Brasil (16/7/2004) o gasto anual das cinco multinacionais com jabá, no Brasil, vai de R$ 71 milhões a R$ 95 milhões.

(CC/AAN)
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