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Diário do Nordeste
Assanhando Jacob
por: Henrique Nunes
Fortaleza, 31.11.2007

Laércio de Freitas
Laércio de Freitas: o pianista paulista rende-se ao universo de Jacob do Bandolim em seu novo CD.
O repertório mais ofuscado do maior bandolinista brasileiro de todos os tempos, Jacob do Bandolim, ganha um bom assanhamento do pianista paulista Laércio de Freitas, com sua característica originalidade.
Jacob Pick Bittencourt (1981-1969), autor de hinos como “Doce de Coco”, “Assanhado”, “Noites Cariocas”, “Tira Poeira”, “Vascaíno” e “Santa Morena”, um dos mais legendários músicos brasileiros, por suas composições, seu talento instrumental e sua obra de difusão da arte do choro, com seu Época de Ouro, tem alguns de seus belos segredos, em forma de choro, samba, valsa e frevo, desvendados em “Laércio de Freitas homenageia Jacob do Bandolim” (Maritaca). Um trabalho depurado ainda pelo violão de Alessandro Penezzi que, aos 33 anos, metade da idade do seu anfitrião, resgata (“E por acaso ele foi seqüestrado”, provoca Laércio em um dos textos que Marcílio Godói preparou para o encarte) temas excluídos até mesmo do recente álbum duplo lançado pela Biscoito Fino, “Ao Jacob, seus bandolins”.
Um encontro de músicos tarimbados no hábito de compor e de criar arranjos, com as singularidades próprias de seus tempos. Unidos pela continuidade natural de uma orquestra, um intérprete de suas obras. No caso de Alessandro, uma estrada em seu início que já havia passado por Laércio há um ano, em um tributo a Radamés Gnatalli, dirigido pelo pianista. Já para o paulista Laércio e o carioca Jacob, um caminho de muitas outras encruzilhadas, propiciadas pelas linguagens de cada um. Alessandro dá tessituras extras ao trabalho de Laércio em torno de alguns destes segredos que Seu Jacob mostrava nos saraus que promovia em Jacarepaguá, entre os anos 40 e 60, perpetuando nossa memória musical. Nesta década, Jacob e Laércio se cruzaram mesmo, em um estúdio da Odeon.

Choros, valsas, sambas e até um frevo, “Sapeca”, têm melodias dobradas, acompanhadas e transcendendo o sentimento do bandolim original ao desenho harmônico de seus instrumentos, assim ainda mais próximos do universo jacobino. “Boas vidas” abre o disco com a jocosidade do choro, mas também com um andamento mais próximo da valsa e depois de requintes do jazz mais atual, violão e piano em uma exuberância módica. O iberismo de “Santa Morena” ganha as cordas e as teclas de “Velhos Tempos”. Depois, os solos deixam claro o dengo chorístico do tema. Na valsa “Falta-me você” e no samba “Carícia”, é o violão de Penezzi que as desestabiliza, no melhor sentido. Os dois dão plena existência a outro samba, “Eu e você”. Mas sob os encantamentos de Laércio e de seu parceiro de fantasia, é o choro que predomina: assanhando-se em “Baboseira”, “Implicante” e “Ginga do Mané” ou ensimesmando-se em “Nostalgia” e “Ciumento”. A Jacob, seus novos assanhadores.

FIQUE POR DENTRO
O PIANO DE OURO DE LAÉRCIO DE FREITAS

Natural de Campinas, Laércio de Freitas, 66, conta com 50 anos de experiência, desde sua formatura no Conservatório Carlos Gomes. Ainda nos anos 50, o regional do cavaquinista Esmeraldino Salles abre seus olhos para a música popular. Foi integrante da Orquestra Tabajara, do Tamba 4 e do Sexteto de Radamés Gnatalli, sob sua regência direta por 10 anos. Laércio compôs temas conhecidos como a toada ´Capim Gordura´ e acompanhou nomes como Maria Bethânia, Clara Nunes e Ângela Maria. Participou de diversos projetos da música brasileira, em especial sob a orientação do choro, como as reverências já documentadas à Pixinguinha. Atuou em algumas das principais casas de jazz de São Paulo e do Rio de Janeiro. Foi arranjador e regente das gravadoras RCA e Odeon. Tem feito arranjos junto à Banda Mantiqueira, Banda Sinfônica do Estado de São Paulo, Orquestra Jazz Sinfônica, Orquestra Jovem Tom Jobim, Jorge Mautner e Caetano Veloso (o álbum ´Eu não peço desculpa´) e ainda para a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo. O ´Tio´, como é conhecido, tem composições gravadas por instrumentistas como Paulo Bellinati e Paulo Sérgio Santos e por grupos como Galo Preto e Trio Madeira Brasil. Ganhou o Kikito de 1999 pelo curta-metragem ´Amassa que elas gostam´. Já ministrou cursos como ´Choro ao Piano´, ´O Arranjo´ e ´Piano Acompanhante´. É pai da cantora e atriz Thalma de Freitas.

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