Estado de Minas
- 13/05/2004
"Nas águas da Canção"
Novo CD de Theo de Barros
por Kiko Ferreira

O compositor Theo de Barros, conhecido como parceiro de Geraldo Vandré em "Disparada", volta ao disco e lança seu terceiro trabalho solo. "Theo", em que também assume os vocais.

Música com letra boa, melodia coerente, harmonia bem construída. Mas uma receita que muita gente famosa e prestigiada pela mídia não sabe ou não quer seguir. Esta indigência ajuda a valorizar o lançamento do belo Theo, terceiro disco do violonista e compositor Theo de Barros, que também assume os vocais de boa parte das 16 composições, reunidas em caprichada produção do selo Maritaca. Membro formador do célebre Quarteto Novo, composto nos anos 60 ao lado de Hermeto Pascoal, Heraldo do Monte e Airto Moreira, Theo é mais conhecido como parceiro de Geraldo Vandré em Disparada e como compositor de Menino das Laranjas, gravado por Elis Regina em 1965.

Músico respeitado pelo refinamento e versatilidade de seu trabalho, ele é protagonista de discos mais que bissexsto. Estreou em LP em 1979, pela nascente gravadora Eldorado, com o duplo Primeiro Disco, ainda inédito em CD, e só voltou ao disco em 1997, com o belo Violão Solo. Theo passou as décadas de 80 e 90 dedicado à publicidade, fazendo jingles e trilhas para comerciais. "A publicidade me tomava o tempo quase todo", lembra, por telefone, de sua casa, em São Paulo. " Não tinha tempo para me dedicar à canção popular".

O cotidiano da propaganda foi importante para o desenvolvimento da habilidade de contar histórias e sugerir imagens. "A publicidade me ajudou a criar técnicas para sugerir paisagens, descrever situações e contar histórias. E também a trabalhar com estúdio, dirigir músicos, criar arranjos". Desiludido com o meio que, por razões de orçamento, vem trocando instrumentistas e arranjadores por tecladistas mais rápidos e baratos, Theo voltou gradativamente a compor, e deve boa parte do crédito do retorno ao letrista Paulo César Pinheiro, com quem compôs mais de 200 músicas nos últimos três anos. Mas não é só. Admirador de talentos da nova geração, como Renato Motha, Eudes Fraga e Rafael Altério, tem uma meia dúzia de canções com Cristina Saraiva, com quem divide Amor de Poeta, uma das faixas mais líricas do disco. E apresenta, como "música especialmente convidada" uma parceria do filho, Ricardo Barros, com Conrado Goys, Zé Menino, sobre a lenda do caboclo d'água.

Todos os estilos da viola brasileira
A água é um dos temas mais constantes da parceria com PC Pinheiro. "Nós temos duas longas suítes, com cerca de 15 músicas cada. Uma sobre canções marinhas, da qual gravei Marinheira Morena, e outra sobre capoeira, de onde saiu Angola". Filho de pai alagoano e mãe nascida no Rio Grande do Norte, Theo homenageia o Nordeste em vários momentos da carreira e do disco. Em Embolada celebra Manezinho Araújo. A festa de Bom Jesus dos Navegantes, que presenciou, menino, nas anuais férias nordestinas, virou a música Festa de Touros. E na suíte Sete Violas, que reiniciou a parceria com PC Pinheiro, dedica um trecho da letra de melodia para cada tipo de viola (primitiva, caipira, marinheiro, capoeira, sertanejo, nordestino e de fitas) e entrega os vocais a um revezamento entre Renato Braz, Mônica Salmaso, um quarteto formado por Cidinha Souza, Ringo Alves, Carlinhos Souza e Tatiana Parra e a dois duetos com o filho Ricardo.

Exercendo a capacidade de criar cenários na bossa Natureza e nas cinematográficas Aguapés e Remanso, Theo de Barros é autor de cinco letras do CD. E numa delas, Cinema, se aproxima da tradição da canção urbana brasileira, de contar histórias e descrever cenas. Brincando com os besouros, abelhas e moscas que voam por temas clássicos da música, usou o humor discreto para batizar a instrumental Vôo da Muriçoca.
Contando com contemporâneos ilustres, como o pianista Cido Bianchi e o violonista / violeiro Heraldo do Monte (seu colega de Quarteto Novo) dividindo a base instrumental com músicos mais jovens como Arismar do Espírito Santo, Teco Cardoso, Toninho Ferragutti e Caito Marcondes, Theo de Barros contou com a liberdade total da flautista Léa Freire, do selo Maritaca, para trabalhar a sonoridade da maneira que achasse melhor. "Tive carta branca", resume. O produto final tem a temporalidade dos disco de Jobim e Edu Lobo e cumpre o objetivo que o próprio autor explica: "A filosofia foi mostrar melodias com começo, meio e fim, que tenham sentido."

"A publicidade me ajudou a criar técnicas para sugerir paisagens, descrever situações e contar histórias"
Theo de Barros


  M a r i t a c a - Selo está lançando outros três CDs

10 Anos
O disco de estréia do veterano baixista Arismar do Espírito Santo saiu a 10 anos pela gravadora Velas, com o nome do músico como título. O oportuno relançamento, pelo selo Maritaca, mantém o mesmo frescor que lhe valeu o Prêmio Sharp de melhor disco instrumental de 1994. Entre composições próprias e recriações de clássicos de Nelson Cavaquinho, Pixinguinha e Durval Ferreira, ele constrói um disco superlativo, com ajuda de amigos como Hermeto Pascoal, Heraldo do Monte e Jane Duboc.

Jazz de Senzala
O cantor, violonista e compositor paulista Filó Machado vem suingando por aí há mais de 20 anos, sem o justo reconhecimento do público, mas com respeito da crítica. Neste seu nono disco, ele mescla temas próprios com recriações inspiradas de temas como Menino das Laranjas (Theo de Barros), Notícias do Brasil (Milton / Brant) e duas de Toninho Horta (Pedra da Lua e Aqui Oh!) com luminosas participações do mineiro.

Guzzi
Filha do baixista Pete Woolley, a cantora, compositora e flautista Guzzi estréia com disco que leva seu nome. Com um pé no jazz e outro na MPB, que conheceu a partir dos sete anos, quando ganhou do pai o LP Wave, de Jobim, ela mescla seis temas próprios com releituras de Cole Porter (You do someting to me), Dori Caymmi (Alegre Menina, em duas versões), Jobim (Outra Vez) além de um tema do pai, Song for Nina.

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