Folha de São Paulo
Bicicletas Aquáticas
por:
Sérgio Molina
26.09.08

Quinteto formado pelo dinamarquês Thomas Clausen e por músicos brasileiros
lança o CD 'Waterbikes', no qual confluem jazz, choro e samba

1 Folha - Como se deu sua aproximação com a música brasileira?
Thomas Clausen - Por meio de discos do Tom Jobim, Egberto Gismonti, Baden Powell, fiquei interessado pela música brasileira e, em 1989, formei um trio (Thomas Clausen Brazilian Trio) de música brasileira com Afonso Correa (bateria) e Fernando De Marco (baixo) que moravam na Dinamarca (hoje, Fernando mora em Londres.
Comecei a compor utilizando ritmos brasileiros. Assisti também a um show em Copenhagen com o Mauricio Carrilho, o Nailor "Proveta" Azevedo e me encantei com o choro. Naquele dia fui para casa e compus três choros!

2 Folha - Em que aspectos a música instrumental brasileira se diferencia do jazz europeu e norte-americano?
Clausen - A principal diferença está na variedade de ritmos, pois, sob o aspecto harmônico todas são muito ricas.

3 Folha - O CD se destaca pela variedade e sutileza dos arranjos. Como se desenvolveu o processo de criação da sonoridade do Maritaca Quintet?
Léa Freire - Os arranjos do Thomas são interessantíssimos, explorando timbres e construindo melodias "secundárias " - tão importantes quanto a melodia em si - que costuram a harmonia de uma forma muito bonita. Eu e o Teco demos apenas alguns "pitacos" quanto à instrumentação e interpretação.
Meus arranjos nascem de uma profunda intimidade musical com o Teco - tocamos juntos há mais de 30 anos e já sabemos onde e como soamos melhor para cada música.
Como temos muita afinidade com o Thomas - inclusive na formação musical, muito parecida, não é difícil estabelecer uma interação muito boa para cada tema. Fora isso, Fernando e Afonso também contribuiram muito com sugestões de "levada", linhas de baixo junto com o sax ou a flauta, enfim, um trabalho de grupo mesmo.

4 Folha - Além de sax soprano, sax alto e flautas você é também o fotógrafo das imagens do encarte de "Waterbikes". Qual é a origem dessas "bicicletas aquáticas"?
Teco Cardoso - Durante a turnê européia de 2006 na Europa com o Marytak ("tak" em dinamarquês quer dizer obrigado), fui dar um passeio na praia de Copenhagen e lá tirei as fotos que mais tarde foram escolhidas para o CD. Na época comentávamos como era bom e, pouco provável, que estivéssemos fazendo boa música brasileira na Europa com um "viking" que toca e compõe choro, maxixe, samba e outros ritmos brasileiros.
Olhando as fotos, que são oníricas e evocam um meio de transporte igualmente improvável (bicicletas subaquáticas), começamos a estabelecer a relação entre as fotos, a imensidão de água que separa Brasil e Dinamarca, e a nos imaginar como "ciclonautas", chegando ao conceito da capa e do nome do CD. Depois, o designer Marcilio Godoi tratou as fotos com cores, "abrasileirando" a paisagem dinamarquesa. Como temos shows em novembro no Brasil, os ciclonautas ainda vão ficar indo e voltando por um bom tempo!


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