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Folha de S. Paulo - Ilustrada
"Banda Mantiqueira "alimenta" ouvidos com disco novo"
por Janaina Fidalgo
SP 23.12.2005
Terceiro álbum "solo" da big banb paulistana, "Terra Amantiquira"
chega às lojas no começo de 2006
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Walmir Gil, François de Lima e Nailor Proveta
caminham no Bixiga
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Foram cinco anos de espera. Eis que um marmitex de papel alumínio traz uma aguardada notícia, anunciada na tampa do material de divulgação em tom de brincadeira (bem séria): "Com fome de música boa e brasileira? Chegou o novo CD da Banda Mantiqueira. Alimentar, meu caro uótison".
Sim, a big band paulistana liderada pelo saxofonista, clarinetista e arranjador Nailor Proveta volta às prateleiras com "Terra Amantiquira", terceiro disco do grupo
A "quentinha" lançada pela Maritaca de fato alimenta, e com o que há de melhor no cardápio da música instrumental brasileira. A receita (e o pulo do gato) para manter a Mantiqueira na ativa a 14 anos é dada por Proveta. "Cada vez tem mais zagueiros nesse campo. Para conseguir chegar ao seu objetivo, é complicado. O gozado é que, ao mesmo tempo que tem tanta gente, há pouca qualidade. Então, com qualidade você consegue penetrar. O que se busca [na Mantiqueira] é um mínimo de integridade. Poderiamos muito bem passar nesta vida defendendo uns cachês", diz o líder.
Na contramão do padrão adotado pelo mercado fonográfico, com grupos que a todo ano lançam um novo (e, não raro, duvidoso) CD, a big band não gravava um disco "solo" desde 2000 - eles têm outros dois álbuns em parceria com a Osesp.
"Para fazer um disco por ano, teriamos que ter uma estrutura econômica que garantisse estabilidade para a banda. Fazer um arranjo legal demora um. dois, três, quatro meses. O tempo e a estrutura não permitem que se produza um disco por ano", avalia.
Cobrança do público para um novo trabalho havia, claro, ainda mais porque os dois primeiros discos, "Aldeia" (1996) e "Bexiga" (2000), estão fora da estante desde que a Distribuidora Eldorado fechou. A boa notícia é que ambos serão relançados em 2006, numa parceria Pau Brasil/Biscoito Fino.
"O fato de os discos não estarem no mercado, atrapalhou. Você pode estar sem tocar, mas se tiver um disco, começa", diz Proveta - o próximo show, aliás já tem data: 17/1, no Bourbon Street.
O intervalo entre os álbuns anteriores foi menor em grande parte porque a indicação de "Aldeia" ao Grammy, em 1998, acelerou ao processo. (À época, o prêmio do mercado fonográfico norte-americano não tinha uma versão "só para latinos, como hoje.) "Essa projeção toda veio depois do Grammy. Nem a gente esperava. Gravamos um disco despretensiosamente", conta o Trompetista Walmir Gil, 48.
Feito no Bixiga
Para entender o que a Mantigueira é hoje, é preciso voltar aos anos 80, lá no Bixiga. Foi no tradicional bairro paulistano que nasceu a "espinha dorsal" da banda, formada por Proveta, Gil, François de Lima e Cacá Malaquias.
Duas formações anteriores, a big band Aquarius e o Sambop Brass, serviram de laboratório para que os instrumentistas se conhecessem musicalmente. "Na Aquarius, tocavamos standarts norte-americanos, e eu queria escrever coisas brasileiras", conta Proveta. "Quando nos conhecemos, a geração mais velha que a nossa só ouvia jazz. Não é que estava errado, mas a nossa formação é de músico brasileiro." Com o fim das outras bandas, restaram nas mãos de Proveta os arranjos que havia feito para uma formação com três trompetes, dois trombones e quatro saxofones: nada mais que o invejável naipe de sopros da Mantiqueira.
"A gente ensaiava lá no apartamento [onde moravam]. Ficava no naipe de trompete no quarto do Gil, o de saxofone no meu e o de trombone no quarto do Cacá. No corredor, um cara contava pra começar", relembra o líder.
O "jeito Proveta de fazer arranjos" é apontado como fórmula de sucesso. Com a palavra o próprio: "Você mede o cara no solo, é aí que vê a força dele. E, quando escreve uns negócios que o músico toca, ele diz: 'Pô, mas isso aqui é difícil'. Falo: 'Mas você toca isso'. Se não, faço arranjo para a banda, e não é isso. É personalizado".
Do outro lado, o trombonista François de Lima, 48, responde: "Os arranjos dele fazem você se tornar um músico melhor. Não é tão facilitado como ele fala. ele vai dando o pãozinho; ou o cara anda, ou quebra ali. O segredo é o arranjo dirigido. Você se sente à vontade, incentivado a tocar".
Folha de S. Paulo - Ilustrada
"CD traz arranjos amadurecidos por anos de shows"
por Ronaldo Evangelista
SP 23.12.2005
Há um motivo para que, em 14 anos de carreira, a Banda Mantiqueira tenha lançado apenas três álbuns de estúdio. Apresentando-se semanalmente em São Paulo há mais de 1dez anos - ou pelo menos até o fechamento do Supremo Musical, onde faziam residência-, os 14 membros da big band costumam passar meses, anos burilando o mesmo arranjo. Tocando toda a semana a mesma música, improvisando sobre ela, descobrindo-a e conhecendo cada detalhe de sua harmonia, melodia, ritmo, essência.
Foi assim, por exemplo, com o medley de "Samba de Minha Terra" e "Saudade da Bahia", ambas de Dorival Caymmi; e com "Airegin", composição do saxofonista tenor norte-americano Sonny Rollins - todas há anos no repertório da banda e lançadas agora neste novo "Terra Amantiquira".
Então, se hoje a mais brasileira das big bands consegue ir de Sonny Rollins a Dorival Caymmi com a mesma com a mesma desenvoltura e soar à vontade no sax barítono como no pandeiro, no jazz como no baião, é porque não se vexam de experimentar, semana após semana, compasso após campasso.
Quando finalmente chegam ao registro e lançamento das gravações, já têm nas mãos arranjos que soam naturalíssimos para todos - especialmente para nós ouvintes.
Perfeitos cumprindo as riscas dinâmicas das partituras como improvisando livremente dentro de cada composição, a banda atinge a genialidade nos ousados arranjos: um dos detalhes mais impressionantes do disco, são as danças que iniciam cada música, antes de entrar efetivamente nas melodias. Mantendo um clima orquestral, mas soando como uma complexa big band de jazz ou de baile de gafieira, a Mantiqueira consegue se manter no limite da originalidade pelos seis, nove, 12 minutos de cada música.
O disco é espetacular e ouvi-lo é uma epifania, mas experiência de vida é vê-los tocar pessoalmente. Se o álbum recebe três aqui, é porque não há o impacto de ouvir in loco o som do naipe de sopros, as dinâmicas intrincadas da base rítmica e harmônica, a riqueza de percussões. Ao vivo, quatro estrelas seria pouco. Se você nunca os viu tocar, abandone o emprego, desmarque o casamento, falte no jantar de família, mas faça esse favor a você mesmo.
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