Correio Braziliense
Pacote brinda Benedito Lacerda

por: Clara Arreguy
DF 26.07.2007

O Brasil teve e tem tantos bons compositores, instrumentistas e intérpretes que o público não consegue conhecer todos que precisa. Vindo da primeira metade do século 20, há um flautista cujo nome não se tornou sinônimo de genialidade, como Pixinguinha ou Noel Rosa, mas nem por isso foi menos importante na história da música popular brasileira. Benedito Lacerda foi autor e co-autor de tantas obras de qualidade que fica difícil apontar apenas algumas. Como ilustração, no entanto, vamos lá: 1 x 0, Os oito batutas, Naquele tempo (todas com Pixinguinha), Querido Adão (com Osvaldo Santiago) e No palco da vida (com Aldo Cabral) são alguns dos sambas e choros que compôs, entre mais de 700 músicas que levam sua assinatura. Para registrar essa história, junto à de muitos outros nomes que fizeram a virada qualitativa da música popular naquele início de século que representou a modernização da cultura brasileira, está sendo lançada a caixa Benê, o flautista, que contém quatro CDs e um livreto em que comparecem os protagonistas de tudo: Benedito Lacerda, Pixinguinha, Almirante, Aracy de Almeida, Armando Marçal, Chiquinha Gonzaga, Canhoto, João da Baiana, Jacob do Bandolim, Herivelto Martins, Mário Reis, Orlando Silva, Orestes Barbosa, Zequinha de Abreu, Sílvio Caldas, Francisco Alves, Dino 7 Cordas, Heitor dos Prazeres… Além de pequena biografia desses e dos demais compositores, cantores e instrumentistas da época, o livreto traz as faixas dos quatro discos, com explicações, letras, músicos que tocam e a primeira gravação de cada uma. Nos discos, as gravações originais foram respeitadas, inclusive com a manutenção de alguns chiados cuja supressão representaria perda de informações. Afinal, os registros fonográficos, nas primeiras décadas do século passado, eram feitos de forma precária, com poucos canais e, no processo de limpeza, não seria possível separar cada instrumento e voz e ainda preservar a audibilidade das músicas.

Disco a Disco:

Disco 1 - Solista e cantor Benedito Lacerda era cantor e flautista do Gente do Morro entre 1930 e 1933, quando o grupo gravou dezenas de composições próprias, instrumentais ou com letra. Os registros mais antigos aqui revelam mescla de samba, choro e valsa, arte em que Benê foi considerado precursor. Entre as 18 faixas, destaque para sambinhas bem-humorados, como Isaura e Preto d’alma branca (ambas de Benedito), Meus pecados (de Heitor dos Prazeres) e Tem agüinha (de J. Machado).

Disco 2 - Benê e Pixinga Ponto alto do conjunto, o encontro entre Benedito e Pixinguinha rende algumas das mais belas canções, sambas e choros do período. Entre 1946 e 1951, eles formaram dupla e gravaram centenas de trabalhos juntos. Foram grandes parceiros e amigos, e sabe-se que nem sempre Benedito era co-autor do que assinava. Se assim foi, fazia parte dos costumes da época negociar a autoria. Até hoje alguns créditos não são certos. De qualquer maneira, são imperdíveis, entre as 24 faixas do disco, 1 x 0 (dos dois), Urubu malandro (domínio público) e Tico-tico no fubá (Zequinha de Abreu), entre outras, sempre na interpretação do regional que os acompanhava.

Disco 3 - O Regional (parte 1) O primeiro nome do grupo foi Gente do Morro. Em meados dos anos 1930, passou a ser o Regional de Benedito Lacerda, que acompanhava os principais cantores e cantoras da época. E não era à toa a escolha que recaía sobre eles. Não apenas a qualidade dos instrumentistas contava (fosse em samba, choro ou marcha de carnaval), mas também a organização de Benedito à frente do conjunto. Neste terceiro disco, entre as 21 faixas, eles aparecem ao lado de Almirante, Carmen Miranda, Francisco Alves, Mário Reis, Sílvio Caldas, Grupo de Chorões, Aracy de Almeida, Carlos Galhardo e outros.

Disco 4 - O Regional (parte 2) Novamente, Carmen Miranda, Almirante, Pixinguinha, Sílvio Caldas, Grupo de Chorões, Orlando Silva, mais Nestor Amaral e Gilberto Alves e Boêmios da Cidade em marchas, valsas, sambas e outros sucessos dos anos 1940 e 1950.

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