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Música Bisscchhhh!!
Por Julio Daio Borges
22/12/2006

Discos de bateristas, quando existem, são chatíssimos. Solos intermináveis, uma verdadeira competição para enfiar cada vez mais ritmos (ou supostamente isso), fora a participação de outros solistas que, incitados ao virtuosismo, tornam a coisa ainda mais aborrecida. Edu Ribeiro, surpreendentemente, fugiu de tudo isso. No seu Já tô te esperando, CD solo e de estréia, pela Maritaca, não encontramos nada que, remotamente, lembre “um disco de baterista”. Talvez pelo fato de que Edu compõe, assinando quase todas as faixas, sempre com temas instrumentais. Seu parceiro de algumas composições, e que igualmente assina o encarte, é o violonista Chico Pinheiro – o que talvez explique, ainda, a riqueza de harmonias e melodias. Edu Ribeiro, no entanto, confessa que andou tendo aulas de guitarra, que topou com um tema no mesmo dia da concepção de seu filho – como se, consciente ou inconscientemente, lutasse com charme pela paternidade desse Já tô te esperando, tão elogiado e cheio de pequenos achados musicais. Além das rapidinhas, em que todo mundo se vira (como a própria “Já tô te esperando”, a faixa título, e “Cinco”, por exemplo), o destaque vai para as lentas e introspectivas, como “Galada” (atenção para Daniel D’Alcântara ao flugelhorn). Metafísica, também, “Pedacinho do Théo”, referência imediata ao filho do baterista, em que Toninho Ferragutti conduz ao acordeom. Interessantíssima, ainda, a bossa “El Rei dos Casamentos”, muito suave no trompete de D’Alcântara, apoiada no piano elétrico de Fábio Torres, sem cair nos clichês do gênero mas acrescentando algo ao cardápio daqueles que já viraram do avesso o Tom. Encerra “Anne e Iracema”, com um toque mais lírico, nada brega porém, em que o violão sobressai mais do que o normal, só que sem os excessos condenáveis. A falta de pretensão (e de expectativa) fez, como acontece às vezes, de Já tô te esperando um disco de baterista audível. Edu Ribeiro, cuja responsabilidade era bater com dois pedaços de pau em cima de algumas caixas, de repente ensina, a outros instrumentistas brasileiros, que um CD solo pode ser, sim, colorido e vibrante.

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