Coluna Feira do Som
- 25/06/2004
Estação Brasil, a emissora de rádio dos

sonhos de Arismar do Espírito Santo
por Edgar Augusto

Sonhar, todo mundo tem direito. Principalmente num País pobre como o nosso, dominado pelos interesses comerciais de poucos.
Na telenovela “Celebridade”, Gilberto Braga sonha com um canal de TV exclusivo para a divulgação da melhor música brasileira. E - pasmem - um grupo empresarial de “sensíveis” resolve adotar o projeto. Em “Estação Brasil”, Arismar do Espírito Santo delira com a existência de uma estação de rádio executando, cheia de audiência, 24 horas por dia de música instrumental produzida e gravada aqui mesmo. Flertando com a realidade, ele registra tudinho num caprichado CD da Maritaca. Realmente, não custa nada sonhar. Melhor ainda se namorar com o sonho. A diferença entre Gilberto e Arismar é que o músico lançou sua proposta em disco. Uma proposta que circulará, tomara, pelas mãos de alguém de boa vontade. A do novelista ficará apenas na lembrança do último capítulo de hoje. Cremos ser difícil uma emissora comercial derreter-se pela música instrumental como algo popular e comercialmente rentável. Mas, para se discutir a idéia, há pelo menos de se dispor de cds bem feitos como o “Estação”. O disco segue um roteiro radiofônico interessante, percorrendo estilos diversos e propondo sonoridades diferentes.Os “locutores” Sabá, Mauricio Figueiredo e Patrícia Palumbo se encarregaram de anunciá-las de forma acadêmica, entre o sério e o debochado. Até para descontrair.Entretanto, fique claro que mesmo com o projeto de programa de rádio já fartamente aludido, o trabalho veio também para mostrar a versatilidade instrumental e melódica de Arismar, capaz de criar a delicada “Gravidez” (com versos de Paulo César Pinheiro, vocalize de Jane Duboc e violão de sete cordas tocado por ele mesmo), um tema especial para a neta (“Helô chegou” também lhe exigiu o violão de sete cordas), a insinuante “Messejana” (onde ele toca bateria ao lado do filho Tiago no contrabaixo, Lea Freire na flauta e Silvia Góes no piano) e ainda um gostoso estudo harmônico em homenagem ao Santos, seu time de coração (“Vila Belmiro” contou com o ótimo Alex Buck na bateria). Sonho e realidade. Entre ambos entra a fantasia, a alegria, a tristeza. Mas, sobretudo, a sensação plena de vida. “Estação Brasil” fez a sua parte. O dia que houver a tal rádio tocando 24 horas de MPB instrumental, ele fatalmente será executado.

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© Edgar Augusto