Folha de Londrina

Acordes cheios de vitalidade
por Ranulfo Pedreiro
nov./2001

De repente, no meio de uma crise fonográfica que tem feito produtores arrancarem os cabelos, a música instrumental brasileira mostra perenidade justamente pelo intuito não-comercial… trazendo títulos com propostas consistentes.

Um deles é o primeiro solo da pianista Silvia Goes, melodista sensível com um fraseado marcado pela acentuação rítmica.
"Piano à Brasileira - Receita de Boa Música" (selo Maritaca) traz 12 faixas, 11 compostas pela pianista. A exceção é "Tico-Tico no Fubá" (Zequinha de Abreu), que ganhou uma releitura transformadora com interferências rítmicas e harmônicas. É a abertura de um CD forte, que se revela aos poucos, em mais de uma audição.

O resultado vem da formação de Goes, que agrega conhecimento jazzístico com música brasileira, imprimindo espontaneidade às composições. Um prato cheio para as participações especiais da flautista Léa Freire e do contrabaixista Arismar do Espírito Santo.

"Caderno de Composição" de Mozar Terra, pianista e compositor mineiro. Com o apoio de Paulo Bellinati (que aparece tocando cavaquinho), Tutty Moreno (bateria), Teco Cardoso, Roberto Sion (saxes) e outros. As composições trafegam por uma larga faixa de gêneros nacionais, passando pelo baião, choro, bossa nova, maracatu e afoxé. O compositor se mostra expansivo, coberto de sopros em músicas como "Ascensão", mas também recolhe-se ao intimismo ao piano em "O Palhaço Chorou". Com mais de 30 anos de carreira "Caderno de Composição" é o primeiro disco autoral de Mozar Terra.

Para completar os laçamentos, o contrabaixista francês Tibô Delor faz uma homanagem a tom Jobim em "No Tom da História" (selo Maritaca), com participação da flautista Léa Freire, do pianista Tiago Costa e do baterias Edú Ribeiro. Em algumas passagens, como "Amparo" (Jobim/Chico Buarque / Vinicius de Moraes), Tibô sola o contrabaixo utilizando o arco, aumentando o impacto melancólico da obra.
… os lançamentos mostram que, se no meio comercial a indefinição provoca perda de lucros, no meio artístico sério a música brota farta, para um público cada vez menos específico.

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