Gazeta do Povo
- sábado 24/01/2004
"Um pequeno e animado harém"
por Rodrigo Browne
Oficina de Música: Turma surpreende com inscrições de 19 mulheres e apenas um homem

Aulas de flauta transversa atraem jovens musicista
Na turma de flauta da oficina de música
Popular Brasileira deste ano, das 20 vagas ofertadas apenas uma foi ocupada por um representante do sexo masculino. Esse pequeno harém formado por jovens flautistas - a maior parte na faixa dos 20 anos - é uma tendência ou coincidência? Para a professora Léa Freire, a turma foi uma obra do acaso e, em princípio, não há por que encarar a flauta como um instrumento feminino. " As maiores referências da flauta são masculinas", constata a instrutora, citando Jean-Pierre Rampal e Pixinguinha.
A atração feminina pela flauta é vista com bom humor pela professora, que desenvolve um trabalho profissional importantíssimo em São Paulo, tanto como flautista quanto à frente do selo musical O Som da Maritaca. Léa arrisca algumas explicações: "Pode ser pela delicadeza do instrumento, pelo tipo de sonoridade que parece com a voz feminina, ou mesmo pelo fato de ser um instrumento de peso leve. Em outros, mais pesados, as meninas têm que ter um namorado forte e disposto a carregar o instrumento, brinca.
Uma das jovens flautistas da turma, Marcela Zanette, 19 anos, acha que a flauta atrai o público feminino por ser um instrumento mais sutil. "As mulheres normalmente tocam flauta, violino e sax. É difícil ver uma musicista de trombone ou trumpete", observa. A flautista catarinense Marina Bastos, 18 anos, concorda e - com a experiência de quem estuda flauta há seis anos - também dá seu palpite: "É um instrumento mais feminino e as mulheres estão descobrindo isso."
Solitário valete no baralho das damas, o argentino Cláudio Schucheim considera uma surpresa ser o único flautista entre tantas jovens. Pela segunda vez na oficina de MPB, o músico portenho confessa que seu maior interesse no evento é aprender os segredos da flauta brasileira. Por outro lado estou começando a descobrir novas possibilidades com a flauta que não encontro no mundo da música clássica", confessa o estudante, que não mede elogios para os compositores Pixinguinha e Ernesto Nazareth.
Um homem e dezenove mulheres. Isso não gera muita conversa durante as aulas? A professora jura que a maciça presença feminina não muda em nada o andamento da sua turma. "Essa história de disciplina e bate-papo não acontece. Ainda mais se tratando de aulas de flauta, durante as quais não dá para conversar, porque o instrumento está na boca o tempo todo", diz, cheia de razão.
Para Léa Freire, o grande trunfo da turma foi o nível dos alunos, o que a surpreendeu favoravelmente. "É raro encontrar gente tão animada, atenta e feliz. Essa energia é contagiante e faz um bem enorme. A idéia que procurei passar nesses dias é que para tocar tem que ser feliz e não sofrer. Senão, ao invés de flauta, é melhor comprar um chicote", finaliza satisfeita.

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