Jornal Hoje em Dia
Música instrumental de qualidade
por:
Fábio Leite
BH 18.02.2008

Contrabaixista e compositor Zeli, autor de “Em Movimento”:
viagem pela música brasileira - Foto: Marcílio Godoi
Dois ótimos discos, lançados recentemente por selos independentes, reafirmama excelência e a variedade da música instrumental brasileira: “AB4” (ST2), segundo disco solo do tecladista Ari Borger, e “Em Movimento”, do baixista Zeli, também o segundo solo, distribuido pela Maritaca...
Zeli, por sua vez, explora com afinco e competência a não menos rica diversidade do repertório musical tupiniquim, entrelaçando o erudito e o popular. Há valsa, choro, canções líricas e até uma leitura da singular “Nascente”, de Flávio Venturini e Murilo Antunes, e homenagens a Moacir Santos e Garoto...

Já houve muito trabalho solo de baixista que ficou prejudicado pela exagerada exposição do instrumento e do virtuosismo de seu executante. Zeli não incorre nesse erro. Ele divide bem a cena, privilegiando a interação com os outros (bons) músicos, as associações sonoras e os arranjos. “Alegria do Mato”, que abre o disco, tem piano (Antonio Barker), trompete (Daniel D’Alcântara) e sax (Vitor Alcântara) fazendo boa parceria com o baixo de seis cordas de Zeli. “Em Varanda”, sambafrevo, que privilegia o andamento, Zeli explora um baixo fretless (sem trasto) de seis cordas e mostra suas habilidades no violão. A faixa, que cabe como trilha sonora para animar uma festa, começa metálica, mas cede ao som cristalino e o balanço do piano, que equilibra o ritmo e os timbres. As construções ousadas continuam na versão jazzificada de “Doce de Coco”, de Jacob do Bandolim, na qual Zeli brinca com seu baixo de seis cordas, como se tocasse violão e guitarra, em solos e acordes, e em “Pela Estrada Afora”, que parece juntar erudito e popular, Villa-Lobos e música caipira, harmonizando Sanfona e bandolim. Outro belo momento do disco é a recriação de “Amphibious”, do grande maestro Moacir Santos (“Ouro Negro”). Aqui, Zeli faz um “duelo” com outro grande contrabaixista Sizão Machado (no acústico) e o sax de Vitor. Vale destacar, ainda, a valsa-choro “desvairada”, que tem seu andamento alterado para 6/8, com bandolim e cuatro venezuelano em evidência. Outros instrumentos ganham espaço, como flugelhorn, trombone e guitarra, na reflexiva e complexa “Valsa dos Anjos”, que acomoda melodias entrelaçadas. O disco termina em crescente, com a progressiva, jazzista e elétrica “Nervo”. “Em Movimento” traz, ainda, três canções que atestam o teor lírico de Zeli, todas bem defendidas por vozes talentosas: “Nino, Alphaville e Beslan”, por Simone Guimarães, “Samba da Montanha”, por Tatiana Parra, e “Em Busca”, por Badi Assad. (F.L.).

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