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Prêmio Rival celebra a música de Aracy de Almeida
Por Monica Ramalho
09/12/2006
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Aracy de Almeida 1914-1988
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Tentando economizar na lista de agradecimentos ("ou amanhã vão publicar na imprensa que falamos demais"), a atriz Angela Leal abriu os trabalhos do 5º Prêmio Rival Petrobras de Música lembrando ao seleto público de músicos e profissionais afins que o calendário apontava para o Dia de Nossa Senhora da Conceição, ou Oxum, de acordo com o sincretismo religioso. A data canônica simbolizou o quanto a produção musical independente é sagrada para o Teatro Rival, sempre de portas abertas aos novatos. "Acho que o Rival é um rito de passagem para o artista sair do anonimato. Além disso, temos um público eclético: não de determinada classe social, mas de determinada sensibilidade", disse, a certa altura do evento, Angela, que fez as honras da casa ao lado da filha Leandra Leal.
Na noite da premiação, o Rival inteiro estava ambientado num cabaré, bem ao gosto de Aracy de Almeida (1914-1988), a homenageada desta edição. E, portanto, após a entrega dos prêmios, as cantoras Nilze Carvalho, Ana Costa, Roberta Sá, Mariana Bernardes, Olívia Byington, Mart´nália, Dorina, Mariana Baltar, Leila Pinheiro e Thalma de Freitas desfiaram o repertório de Araca (assim era chamada pelos amigos), incluindo clássicos de Noel Rosa, Assis Valente e Wilson Batista. Enquanto elas se revezavam ao microfone, eram exibidos alguns trechos divertidíssimos de uma entrevista que Herminio Bello de Carvalho fez com a intérprete. A Arquiduquesa do Encantado não pensou duas vezes em responder que entre cachorros e homens, preferia a companhia dos primeiros. Como Aracy não deixou herdeiros e o prêmio ao artista homenageado previa uma parte em dinheiro, Angela repassou a quantia a Herminio, em favor da Escola Portátil de Música.
O cantor paulistano Renato Braz foi o primeiro a buscar seu Troféu Aracy de Almeida, acompanhado por um cheque no valor de R$ 3 mil, pelo álbum Por toda a minha vida. A mineira Jussara Silveira levou o prêmio de 'cantora' por Entre o amor e o mar. Na categoria 'compositor', os indicados (e presentes) Luiz Carlos da Vila e Delcio Carvalho aplaudiram Aldir Blanc (por Vida noturna), ausente por problemas de coluna e representado por Herminio. Outro vencedor ausente foi Laércio de Freitas, pelos arranjos que fez para o álbum de choro Remexendo, dos violonistas Euclides Marques e Luizinho 7 Cordas. Escalada para o show da noite, a cantora e atriz Thalma de Freitas substituiu o pai e foi das poucas a fugir dos agradecimentos tradicionais: "Uaaaaauuuu! A maior alegria do meu pai é escrever arranjo. Ele vai ficar muito feliz com esse prêmio", disse, jogando charme.
O regional de choro Galo Preto ganhou o prêmio de 'grupo instrumental' pelo álbum no qual comemora as três décadas de carreira. Dedicaram a vitória aos mestres Claudionor Cruz, Cartola e Elton Medeiros. O filho do genial Baden Powell, que recebeu aplausos redobrados quando mencionou o nome do pai, o também violonista Marcel Powell venceu na categoria 'instrumental solo' pelo disco Aperto de mão e o quinteto Casuarina, representado na festa por Olivia Hime por coincidências de agenda, faturou a estatueta de 'grupo musical'.
Marcelo Camelo e Kassin foram escolhidos os melhores produtores artísticos do ano pelo disco Amendoeira, de Bebeto Castilho. Camelo fez questão de dizer que o troféu era do Tio Beto e, para Kassin, eles aprenderam muito mais com o integrante do legendário Tamba Trio do que o contrário. Metade do Rival se levantou para aplaudir Zé da Velha, ganhador da categoria 'tributo' pelo álbum Só Pixinguinha, gravado com o parceiro Silvério Pontes (na foto, a dupla em ação). Na categoria 'atitude', o vencedor foi José Mauro Brant - pelo disco infantil Contos, cantos e acalantos. Brant resumiu bem a proposta do quesito: "Se atitude é você trabalhar dez anos para realizar um sonho, acabar com a sua poupança para mostrar o folclore brasileiro para as crianças, se isso é atitude, acho que mereço esse prêmio".
A cantora Ana Costa abocanhou o Troféu Aracy de Almeida como a 'revelação' de 2006 pela estréia solo em Meu carnaval, Olivia Hime desbancou Chico Buarque e João Donato na categoria 'excelência' pela direção artística da gravadora Biscoito Fino e Marcos Valle foi eleito o 'embaixador da MPB' pelo trabalho que desenvolve há décadas no exterior - ao lado de artistas como Roberto Menescal, Wanda Sá e Joyce, por exemplo. O 'aval do Rival' foi para o ovacionadíssimo Tantinho da Mangueira, que concorria em 'cantor' e 'atitude' pelo fabuloso trabalho de resgate de composições esquecidas da escola, gravadas no álbum Tantinho, memória em verde-e-rosa. E Luiz Carlos da Vila - o favorito da platéia no quesito 'compositor' - recebeu o prêmio de 'aclamação'. Do lado de fora do Rival, havia um carnaval de rua à moda antiga, com quilos de confetes e serpentinas, ao som do Cordão da Bola Preta.
Em 2007 tem mais. O pianista e compositor Antonio Adolfo, pioneiro em lançar discos sem o amparo financeiro ou as estratégias de marketing e distribuição de uma grande gravadora, será o homenageado da próxima edição do Prêmio Rival Petrobras de Música. A escolha foi inteligente e oportuna, visto que completam-se 30 anos do lançamento do antológico Feito em casa, o primeiríssimo long play a singrar estes mares independentes na história centenária da música popular brasileira.
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