O Estado de São Paulo - Caderno 2
Proveta mostra o passado e o futuro de um instrumento
por: Francisco Quinteiro Pires
01.07.2009

Saxofone Brasileiro registra os múltiplos papéis de um novato na história musical

Nailor "Proveta" Azevedo
Quem É Você? é o nome de um choro menos conhecido de Pixinguinha. Quem é você? é a pergunta de Nailor Proveta a um jovem instrumento de sopro, da família das madeiras, que aportou no Brasil, difundindo-se no começo do século passado. A resposta à interrogação está em Saxofone Brasileiro (Acari, R$ 25).“Um trabalho de preservação da música brasileira: ao mesmo tempo que aponta novos caminhos, ele não pretende mudar nada da tradição”, diz o clarinetista e saxofonista Proveta, há 40 anos no ramo. A ideia do projeto nasceu do contato de Proveta com os violonistas Mauricio Carrilho e Paulo Aragão. Durante um ano, debateram à exaustão o “conceito” do disco, gravado em duas semanas, com a participação de cerca de 30 músicos, entre os quais Cristóvão Bastos (piano), Luciana Rabello (cavaco) e Sizão Machado (contrabaixo). O segredo, diz Proveta, mora no equilíbrio: o choro exige a precisão da música erudita e a malandragem da música popular. “Equilibrar essa concepção – ter controle, mas sem asfixiar o humor –, dando espaço a cada instrumento, e não só ao saxofone, foi uma loucura”, diz. “Tem faixas em que atuam mais de dez músicos, e achar um lugar para cada um foi mesmo desafiador.” Segundo o saxofonista nascido em Leme, no interior do Estado, as formações mais enxutas podem sugerir “certezas mecânicas” às interpretações. O negócio foi experimentar novos caminhos, dados por instrumentação que as composições não previam. No CD, Proveta toca três tipos de sax: soprano, alto e tenor. E cria diferentes formações: banda, regional, coreto e música de câmara. A intenção é mostrar as funções do saxofone na música instrumental brasileira: do solista ao acompanhante. Quem É Você? é a primeira das 12 faixas. Apresenta Pixinguinha (1897-1973), sax tenor que tornou clássicos os contracantos no choro e elo entre solistas e instrumentos de corda. Um dos primeiros a trazer os ax para o choro, Anacleto de Medeiros (1866-1907) aparece em Implorando, um cschottisch. Proveta chamou Luís Americano (1900-1960), autor de Linda Érika, e Ratinho, autor de Saxofone, Por Que Choras?, ambos tocadores de sax alto, para mostrar a característica solista do instrumento, inventado pelo belga Adolphe Sax, nos anos 1840, e cujo timbre mais se assemelha ao da voz humana. Na execução de Ternura, choro de K-Ximbinho, apelido do potiguar Sebastião de Barros (1917-1980), Proveta fez um regional e um coreto dialogarem. Duas composições, Stanatse Moacirsantosiana 5, lembram o pernambucano Moacir Santos (1924-2006). Gravada por Sizão Machado em 2001, a primeira é a homenagem de Moacir ao saxofonista americano Stan Getz. Ela foi arranjada por Proveta a pedido do próprio maestro, quando daprodução de OuroNegro (2001). Ganhando a primeira gravação, a segunda é parte das 16 Moacirsantosianas, compostas por Mauricio Carrilho. O CD contempla o trabalho de não saxofonistas: César Guerra-Peixe (Inclemência), Radamés Gnattali (Caminho da Saudade), Cristóvão Bastos e Paulinho da Viola (Não Me Digas Não). Proveta apresenta duas composições de sua lavra: Choro e Divertimento e Choro de Uma Valsa.

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