Folha de Londrina
Brasileiro, com um toque europeu
por:
Phoenix Finardi
Londrina, 01.08.08

'Waterbikes', o primeiro CD do quinteto Maritaca, une a criatividade de um grupo de músicos
nacionais com a sofisticação do dinamarquês Thomas Clausen, um sinônimo de jazz

O disco tem sambas, maracatu e choro,
além de composições de Tom Jobim e
Chico Buarque
"Cobra d'água, pedra d'água, mundão d'água e agora a bicicleta. Os cientistas disseram que a música se propaga melhor debaixo d'água. Deve ser verdade. Músicos adoram a imagem dessa matéria que interliga tudo, parece tirar a gravidade e, uterinamente, abriga os melhores sonhos. Água é matéria-música. A mágica fica por conta de como se movem em vôo-mergulhão as maritacas brasileiras e dinamarquesas nesse palco submerso de musicalidade. Para explicar, só figurando esse concerto em Copenhagem como um Chagall flutuando no Pantanal. Ou seriam alegres Vikings verde-amarelos atravessando a claridade nórdica com suas bicicletas voadoras?''

O texto de apresentação de ''Waterbikes'' (Bicicletas D'Água) quase que dispensa apresentações. O CD é o primeiro do Maritaca Quintet, que celebra a união de Léa Freire, Teco Cardoso e o dinamarquês Thomas Clausen Brazilian Trio, gravado em apenas três dias de junho num estúdio de Copenhague. O álbum traz sambas, maracatu e choro, além de composições de Tom Jobim. Uma mistura afinadíssima de três visões muito distintas do Brasil: o olhar estrangeiro de Clausen, o olhar saudoso de Afonso Corrêa e Fernando De Marco, brasileiros que moram no exterior, e o olhar atento de Teco e Léa, que vivem, tocam e criam no País.

Mas afinal, quem é essa gente talentosa? Thomas Clausen é sinônimo do melhor jazz da Europa. Tem 16 discos gravados e já tocou com Miles Davis, Joe Henderson, Stan Getz, Dizzie Gillespie e Chet Baker. Arranjador e compositor da Orquestra Sinfônica de Copenhague, é um apaixonado por música brasileira. Em 97 ele formou o Thomas Clausen Brazilian Trio, com o baterista Afonso Corrêa e o contrabaixista Fernando De Marco. Ele assina metade das faixas do CD, inclusive um chorinho que faz a gente jurar que ele é brasileiro.

Léa Freire é flautista. Junto com o saxofonista Thomas Clausen, uniu-se ao Trio para uma turnê pelo Brasil e Europa, em 2006. Foi assim que surgiu o Quinteto Maritaca. Compositora, Léa trabalhou com Alaíde Costa e Arrigo Barnabé. Ela tem três músicas no CD, inclusive a faixa que abre o disco, ''Samba do Gui-Gui'', que cativa a gente logo nos primeiros acordes. Cardoso é integrante do grupo Pau-Brasil e já tocou com Edu Lobo, Joyce, Hermeto Pascoal e João Donato.

O quinteto faz uma releitura de ''Chega de Saudade'', de Tom Jobim, com destaque para as flautas de Léa e Cardoso, que dão uma roupagem quase etérea para a famosa bossa-nova de Tom Jobim. Outra música que está quase irreconhecível é ''Retrato em Branco e Preto'', de Jobim e Chico Buarque, com Clausen no piano e Léa na flauta. Diferente, mas ainda maravilhosa.

O trabalho é sofisticado, mas simples. Os instrumentos não se ''trombam'', não se confundem nem atrapalham. A harmonia entre o piano de Clausen e as flautas, contrabaixo e bateria dos brasileiros é perfeita. Parece coisa nativa, com uma roupagem européia. Criativo como nós, elaborado e bem acabado como eles. Só não dá para entender de onde surgem as bicicletas. Mas também, com um som desses, quem liga para as bicicletas?


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