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Jornal de Londrina
Há algo de samba na Dinamarca
por: Ranulfo Pedreiro
Londrina, 02.09.08
CD lançado pelo Maritaca Quintet revela como a música brasileira
foi incorporada e dominada pelo compositor e pianista Thomas Clausen
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Maritaca Quintet - Dinamarca
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O compositor dinamarquês Thomas Clausen ficou surpreso quando soube que haveria um show de choro em Copenhagen. Curioso sobre música brasileira ele acompanhou a apresentação com instrumentistas do naipe de Maurício Carrilho (violão) e Nailor Proveta (clarinete). Clausen foi direto para casa e, na mesma noite, compôs três choros.
Em pouco tempo o dinamarquês estava íntimo da música brasileira, tanto que formou o Brazilian Trio com Fernando De Marco (baixo) e Afonso Correa (bateria). Depois de passar por todo o espectro do jazz e tocar com Miles Davis, Dizzy Gillespie, Stan Getz, Chet Baker, Joe Henderson e Dexter Gordon, entre outros, Clausen tornou-se um apaixonado pelo Brasil.
Para se ter uma idéia, Clausen é daqueles músicos que passam 14 horas em cima do piano, sai para escarafunchar discos em sebos, tem uma formação sólida e ficou impressionado com a harmonia brasileira, com a quantidade de acordes que utilizamos em um único compasso.
Em uma de suas viagens para cá, conheceu os instrumentistas Léa Freire (flauta) e Teco Cardoso (saxofone). A integração musical veio com a amizade, surgindo o Maritaca Quintet. O primeiro disco do grupo está saindo no Brasil pela Maritaca (www.maritaca.art.br). Waterbikes foi gravado em 2006 na Dinamarca e se destaca, logo de cara, pela ambientação. Os técnicos do Sun Studio fizeram uma engenharia de som tão apurada que os retoques digitais, comuns na masterização, foram desnecessários.
“A música instrumental de qualidade fica às vezes meio perdida, se esgota por falta de misturas, e a música brasileira ainda está se formando, é um campo enorme de descobertas”, explica Léa Freire, em entrevista por telefone.
Waterbikes é um disco de jazz ancorado por ritmos brasileiros e melodias que visitam do choro à bossa nova. Ouvindo, é muito difícil distinguir as músicas de Thomas Clausen do restante do repertório. Trata-se de um músico que não se comporta como um gringo no samba, apresentando um domínio surpreendente de nossa linguagem musical.
“A música brasileira não tem registro gráfico, partituras, não tem nada explicado, é um desafio enorme. Os grandes músicos de jazz adoram isso, construir um desafio dentro de uma base que está se movimentando”, comenta Léa Freire.
Waterbikes é justamente o reflexo desse movimento, da improbabilidade de músicos dinamarqueses e brasileiros se encontrarem no universo do choro, do samba, da valsa, compreendendo-se em uma linguagem difícil e ao mesmo tempo rica e espontânea. Ao unir dois mundos, o Maritaca Quintet cria um terceiro, universal para os ouvidos.
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