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O ar da graça
por:
Margareth Xavier
BA 28.03.08

"Um sopro de Brasil"
reúne instrumentistas de peso na programação do Mercado Cultural

“Um gostoso respiro musical nestas plagas, que mal se despediram do Carnaval e já aguardam o São João. Um sopro de Brasil, série do Projeto Memória Brasileira, faz nesse domingo, às 20h, em Salvador, uma de suas raras apresentações, na edição especial do Mercado Cultural, que será aberta hoje no Teatro Castro Alves. Com alguns dos mais renomados instrumentistas do gênero, o grupo integra a programação que, na música, traz também os mineiros do Uakti, o pernambucano Siba e sua Fuloresta, os argentinos Balvina Ramos, Mariana Baraj e Gaby Kerpel, e os venezuelanos Vidal Colmenares e Aquiles Baez, além de teatro, dança e exposição. O ingresso custa R$8 (inteira) e R$4 (meia).

“Estar na Bahia é rever contemporâneos, da minha e de outras gerações. É encontrar minhas origens musicais e dividir culturas”, comenta, por telefone, o músico Maurício Einhorn, 75 anos, o maior gaitista do jazz brasileiro. Filho de poloneses, nascido no Brasil, trouxe novos ares para a bossa nova em mais de 60 anos de profissão. Einhorn, ao lado de Paulo Moura, Joatan Nascimento, Adolfo Almeida Jr., Mané Silveira, Teco Cardoso, Vinícius Dorim, Vittor Santos, Mauro Rodrigues, Lea Freire e Toninho Carrasqueira, forma o grupo que reúne instrumentos, timbres e as diversas formações possíveis a uma orquestra de sopro.
A história vem desde 2004, com a reunião de 250 músicos de todo o país em uma série de oficinas e shows que renderam um CD, dois DVDs, um livro e apenas duas apresentações públicas, em São Paulo, com diferentes formações. “Venho muito feliz e grato pela possibilidade de uma conversa musical e cultural, que ao passar dos anos se torna cada vez mais íntima”, diz. Totalmente na ativa, só no ano passado Einhorn lançou dois CDs, Travessuras e Conversa de amigos vol 2, ambos pela Delira Música, além de dezenas de participações em outros trabalhos. “São mais de duas mil gravações em 50 anos”, comenta.

Em uma passagem curiosa, lembra que foi na Bahia que fez um de seus concertos mais curtos, há mais ou menos 20 anos, interrompido por uma revoada de morcegos. “Tocávamos em uma ruína de igreja. Os morcegos atravessaram o palco e a platéia e todo mundo correu, acabando com a apresentação”, conta. Depois, retornou apenas uma vez, para uma oficina do projeto Memória Brasileira. “Tenho origem judaica mas, de frente para as antigas igrejas baianas, me senti mais perto de Deus do que em outros locais sagrados”, observa.

Mercado musical – Desde que surgiu no cenário baiano, em 1999, o Mercado Cultural dedicou-se a trazer para a Bahia artistas de vários países com trabalhos marcados pela diversidade e forte vínculos com suas raízes. Esta edição especial – a 8ª, de caráter mais abrangente, será realizada em dezembro –, com o tema comVivercom, expressa também o desejo de seus organizadores de exibir o funcionamento do Instituto Casa Via Magia, que comemora 25 anos de atividade. Na escolha dos artistas, nomes que já marcaram presença por aqui, donos de um primoroso diálogo entre tradição e contemporaneidade.

Caso do mineiro Uakti, que se apresenta hoje, na abertura do evento, às 21h, no TCA. Eles trazem o show 21, com a trilha especialmente composta por Marco Antônio Guimarães para o balé homônimo do conterrâneo Grupo Corpo. No palco, Paulo Sérgio dos Santos, Artur Andrés Ribeiro e Décio Ramos tocando os inovadores instrumentos feitos a partir de tubos de PVC, vidros, metais, pedras, borracha, cabaças e água.

Teatro e dança
A programação de teatro do Mercado Cultural, concentrada na Sala do Coro, com apresentações de hoje a domingo em horários alternados, traz os infantis Passarinhando (amanhã, 15h) e Ossos e ofícios (domingo 15h), espetáculos de repertório da Casa Via Magia, e os juvenis As palavras (amanhã, 18h) e Romeu e Julieta e Caetano (domingo, 18h), realizado com jovens do Engenho Velho da Federação participantes do Ponto de Cultura. Idéias de teto, da Sua Companhia de Dança, residente da Casa Via Magia, é a atração de hoje, às 18h, também na Sala do Coro.
No foyer do TCA, de hoje a domingo, das 14h às 20h, uma exposição de fotos, pôsteres, vídeos, máscaras, livros e CD-ROMs, produzidos e compilados para resgatar a trajetória da Casa Via Magia. Também hoje, às 20h, acontece o lançamento do projeto Valentim - Um passarinho me contou..., iniciativa do Instituto Via Magia que tem como objetivo aliar produção cultural, educação, meio ambiente e desenvolvimento social em municípios do Vale do Rio Gongoji, sudoeste do estado.

Festa de maracatus, frevos e cirandas
Desde que decidiu fincar pé nas tradições que sempre fizeram parte de sua memória musical, o pernambucano Siba Veloso tem protagonizado um das mais frutíferas mostras da qualidade da produção musical brasileira. Com o recém-lançado Siba e a Fuloresta - Toda vez que eu dou um passo o mundo sai do lugar (Ambulante Discos, 2007), segundo do grupo depois de Fuloresta do samba (Mata Norte discos, 2002), eles chegam a Salvador com uma festa de maracatus, frevos e cirandas.
“Essa fala musical que tem a ver com o nosso tempo, sem soltar das raízes, não é mérito meu, mas de minha tradição, do maracatu que nos obriga a cantar e renovar sempre o repertório”, comenta o artista, ex-Mestre Ambrósio, por telefone.
Para Siba, estar presente no Mercado tem um significado especial. “Meu primeiro show em teatro com a Fuloresta foi aí no Teatro Castro Alves e foi o primeiro teste para os músicos como músicos de palco”, relembra. Tiraram de letra e seguiram para vários outros palcos do país e do mundo. De Biu Roque, 74, antigo parceiro, a Bolinha, 19, passando por Mané Roque, Cosmo Antônio, Zeca, Roberto Manoel, Galego e João Minuto, toda uma estrada de quem faz música de sopro e percussão, rimas e cantos que pretendem falar de si para conversar com o outro.
A apresentação amanhã, às 21h, no TCA, reúne também os convidados argentinos e venezuelanos. Os argentinos são Balvina Ramos, Mariana Baraj – que já esteve no Mercado – e Gaby Kerpel. Este último chama a atenção pelo uso da tecnologia como ferramenta e suporte para instrumentos tradicionais argentinos, como charango, bombo legüero e tarca. Vidal Colmenares, da Venezuela, traz sua bela voz e a música llanera, enquanto o conterrâneo Aquiles Baez – que também já esteve no Mercado – celebra a música latino-americana com influências jazzísticas

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