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"Corrente - Fabio Torres, Paulo Paulelli e Edu Ribeiro"

Por Julio Daio Borges
02/01/2006

Como são cansativos os discos de música instrumental brasileira, principalmente anônima. Quase tão cansativos quanto os discos de “novas cantoras”, que aparecem (e somem) a cada semana. Pobre música brasileira: lá se vão quatro décadas desde o boom da MPB, e os ruins – mormente, os “jovens ruins” – ainda não desistiram dela... Por essas e por outras (tantas outras...) que é sempre um alívio encontrar um disco “redondo” e que roda na vitrola direto desde o começo. Musicalmente falando. Disco assim, ou CD (ou o que quer que seja), é o Corrente, do trio Fabio Torres, Paulo Paulelli e Edu Ribeiro, pela Maritaca. Flui desde a primeira faixa, é gostosamente jazzístico (sem ser chatinho), é improvisado na medida (sem se estender demais), bem gravado e com repertório assaz bem escolhido. Claro, Tom Jobim, Pixinguinha, Moacir Santos... mas em versões que valem a pena serem ouvidas. Você escuta o álbum todo e sente que, por trás da proposta, existe um conceito. Não é um caça-níqueis, querendo faturar em cima dos mestres; não é uma colcha de retalhos sem personalidade, querendo agradar a todos (e não agradando a ninguém). Corrente flui. O verbo é esse. E surpresa das surpresas: existem, entre as conhecidas, composições dos próprios intérpretes – que não querem soar “estranhos” ao contexto, nem subverter as regras do sistema. Composições que fluem igualmente. Outra coisa (outro vício que esse disco não tem): não são intermináveis as listas de “participações especiais”. Vinicius Dorin é o único, no sax alto, em “Triste”, e olha que não é nem “famoso”. Porque não adianta: enfileirar nomes consagrados, se o disco não é bom... – não leva ninguém a lugar nenhum. Ao bom ouvido não se engana. Feliz ou infelizmente. Parabéns, ainda, ao trio pelas inventivas fotos em meio a caixotes de legumes & verduras (supõe-se que partam do galpão para a feira, ou algo assim). Não contramão das cerebrais investidas de músicos e instrumentistas brasileiros, Corrente flui inegavelmente.

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