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Espiral
por: Julio Daio Borges
28.05.2007

Provavelmente a música brasileira instrumental mais interessante do momento está sendo composta, lançada e tocada por Léa Freire e seus parceiros, através da gravadora Maritaca. Em meados de maio, tivemos mais uma prova disso, com Naná Vasconcelos na platéia e Paulo Bellinati no palco, no lançamento de Cartas Brasileiras no Auditório Ibirapuera. Com o despojamento da velha roqueira que um dia foi, Léa comandou o espetáculo, organizando a entrada e saída dos músicos, dividindo a direção com o maestro Gil Jardim, pois aquelas três noites, especialíssimas, iriam parar num DVD ao vivo que, neste momento, deve estar no forno... O repertório, como o CD homônimo, era inédito, mas tão bem amarrado, concebido e realizado, comunicando-se com seu tempo, que soava, aos ouvidos do público, de uma familiaridade estonteante. Léa é, em resumo, a pessoa certa, no lugar certo, na hora certa. Cartas Brasileiras, o disco, tem direção musical de Teco Cardoso, e é incrível como pioneiros à sua maneira, aliás como o próprio Benjamin Taubkin, seu Núcleo Contemporâneo, e a Orquestra Popular de Câmara (OPC), estão encontrando eco, neste novo teatro, como se, de repente, sua música fizesse mais sentido e fosse finalmente assimilada. Cartas Brasileiras, o show, teria Mônica Salmaso, que, na ocasião, estava grávidíssima – e que é a ponta de lança, mais mainstream, desse grupo de músicos que vinha experimentando há anos e que está atualmente se consagrando. Cartas Brasileiras, o disco (de novo), como os registros em estúdio da OPC, não tem aqueles vazios que músicos populares às vezes deixam, quando transpõem suas peças para o universo da orquestração. Fica nítido que, faixa a faixa, foi escrito na pauta, pois é consistente no uso da orquestra, dos solistas e do espaço que reserva ao maestro. Léa Freire é uma das locomotivas por trás desse movimento. Que inspire jovens músicos, hoje cheios de interrogações.

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