O Estado de São Paulo
- 09/07/2004
"Theo de Barros volta com grandes canções"
por L.L.G. - Caderno 2
foto: Tiago Queiroz / AE

Ele é destaque entre os novos títulos do selo Maritaca, que agora investe em MPB vocal.

Especializado em música brasileira instrumental, o selo Maritaca, comandado pela flautista e compositora Léa Freire, está a sete anos no mercado. Recentemente estreiou como distribuidora de discos e passou também a investir em MPB vocal, começando com expoentes de três gerações: Theo de Barros (de 61 anos), Filó Machado (de 52 anos) e Guzzi (de 39). Entre seus novos títulos há também de um instrumentista de outra linguagem: Arismar do Espirito Santo (de 47 anos). Exeto Guzzi, os demais têm percursos entrelaçados.

Parceiro de Geraldo Vandré no clássico "Disparada", Theo de Barros volta com o sensacional Theo, seu terceiro disco-solo. O CD reúne 16 das cerca de 150 novas canções que ele compôs nos últimos três anos. Algumas têm letras do genial Paulo César Pinheiro, uma é de Cristina Saraiva, outra é de Conrado Goys, algumas são instrumentais. Mônica Salmaso (na linda Natureza), Renato Braz, Ricardo Barros, e Tatiana Parra se alternam nos vocais. Diante de tantas belas vozes Theo até que dá conta do recado como cantor, mas está melhor ao violão. Afora isso, o elenco de instrumentistas é de matar a pau: Arismar, Caíto Marcondes, Heraldo do Monte, Proveta, Teco Cardoso, Toninho Ferragutti, Léa Freire, que também produziu o CD. Impressionante.

Com exceção do carioca Theo, os outros três, paulistas, têm vivência musical ambientada no jazz. Guzzi tem entre seus ídolos o pianista Bill Evans e a grande dama Ella Fitzgerald. O apelido foi dado pelo pai, o contrabaixista Pete Woolley que a chamava de goose (ganso em inglês) por causa de seu jeito desajeitado de andar. Embora criada numa família de músicos, ela decidiu encarar a profissão só aos 29 anos e lançando o primeiro CD homônimo agora, dez anos depois. Era tímida e não se achava preparada. Guzzi denota influências do jazz e do estilo Jane Duboc, com quem estudou canto. Ela abre e fecha o CD com Alegre Menina (Dori Caymmi / Jorge Amado), canta canções do pai, de Cole Porter, Mané Silveira e Tom Jobim, a quem dedica uma de suas cinco composições. Ainda que tardia, uma boa estréia.

O santista Arismar do Espirito Santo também comparece com um trabalho de estreante. Trata-se da reedição de seu primeiro disco-solo, lançado em 1994, daí o novo título 10 Anos. Além de seu instrumento principal, o contrabaixo, Arismar toca violão, piano, guitarra e percurssão, interpretando temas próprios, de Hermeto Pascoal, Nelson Cavaquinho, Pixinguinha e Vinícios de Moraes. Show de virtuosismo.

Arismar participa dos álbuns de Theo de Barros e de Filó Machado, que também tem arranjos de Theo em algumas faixas, como Menino das Laranjas, de sua autoria. Produzido por Léa Freire, Jazz de Senzala sugere no título o contraste entre liberdade e escravidão. A contradição está só no jogo de palavras - o que se ouve não se prende a nenhuma limitação. Filó deita e rola em recriações de outras canções alheias (Gilberto Gil, Toninho Horta, Milton Nascimento, Joyce), alternado-as com temas instrumentais assinadas pelo próprio cantor e violonista. Lapidado nas duas funções, parece um misto de Gil, Al Jarreau no ótimo Tema de Macumbinha, É todo suingue.

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