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Revista Jazz + Ano 3 nº 15
Arismar por: Pedro Rosas
Zeli por: VM
Maio 2007
Arismar do Espírito Santo
CD Foto do Satélite
Sabemos que, sob a força máxima da intuição, gravitam os maiores artistas da nossa história. Ser espontâneo é ser único. Por isso as obras de Arismar do Espírito Santo permaneçam vivas e, quem sabe também por isso, este multi-instrumentista (fluente em contrabaixo, guitarra, violão, piano, bateria) seja reconhecido por suas harmonias inusitadas e por sua excentricidade criativa. Afinal, nos seus mais de 30 anos de carreira, Arismar já ganhou uma infinidade de prêmios dentro e fora do país. Em Foto do Satélite (Maritaca), seu último trabalho solo, Arismar que assina as 16 composições de todo o disco, revela a exultação do toque malicioso, depurado, típico da música instrumental brasileira - mesmo em diálogo com arranjos mais densos e melancólicos -, além de uma mistura surpreendente de ritmos. Uma verdadeira odisséia polirrítmica - flertando com o jazz, o xote, baião, samba, salsa - que reúne figuraças importantes da MPB, como Thiago Espirito Santo (filho de Arismar e produtor do disco), Michel Leme, Jane Duboc, Pepe Rodrigues, Bia Góes, Léa Freire, Dominguinhos, Vinicius Dorin, Silvia Góes e Proveta. Mestre em criar desenhos, Arismar abre o disco com a faixa "Vestido Longo", buscando uma configuração única entre o jazz e o samba - talvez forçando um casamento entre Dave Brubeck e Paulo Moura. Na música "Brincadeira de Criança" arranca suspiros de lirismo da voz de Jane Duboc. Em " Mana", Arismar senta ao piano, bate palmas, canta, jorra síncopas para dentro de seu universo de inventividades. Seguramente, Foto do Satélite sai do forno para alimentar sua sina de experimentador insaciável, como se Arismar estivesse, a todo momento, se dedicando à reconstrução da música e à reinveção de si mesmo.
Zeli
CD Em Movimento
O baixista Zeli ficou entre os destaques do Prêmio Jazz + de 2006 nas categorias compositor e instrumentista da música brasileira e nós nem mesmo tinhamos falado ainda de Em Movimento. Integrante do quinteto Terra Brasil, Zeli expõe seu talento sem limite em novo trabalho solo, predominantemente calcado em composições próprias, mas também em homenagens a Jacob do Bandolim ("Doce de Coco"), Garoto ("Desvairada"), Moacir Santos ("Amphibious") e Flávio Venturini ("Nascente"). Coerente com sua filosofia - "Faço música, apenas" -, o Zeli coletivista trafega pelo samba, choro, jazz tupiniquim e regionalismo mineiro sem perder a identidade e a inspiração em suas criações. Sanfonas, congas, violão de sete cordas, vozes, pianos, trompetes, trombones e guitarras surgem matizes para sustentar o baixo encorpado - ora acústico, ora elétrico - delineado por Zeli. Talvez seja mais fácil identificar o virtuose nas versões para músicas de Garoto, Jacob do Bandolim e Venturini. São ótimas, todas as três, porém utilizadas aqui como pantomimas para disfarçar e decorar o ambiente sólido e inteligente erguido pelas peças autorais, centro nervoso do disco e exemplos reais do brilho de Zeli.
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