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Os bambas do sopro
por:
Daniel Barbosa

BH 10.07.2006

Altamiro Carrilho é um dos integrantes da velha guarda no show de quarta-feira no Palácio das Artes
Belo Horizonte vai assistir, na próxima quarta-feira (12 de Julho), ao encontro de alguns dos maiores instrumentistas de sopro do Brasil.

Os solistas Altamiro Carrilho, Paulo Moura, Maurício Einhorn, Teco Cardoso, Adolfo Almeida Jr., Léa Freire, Mané Silveira, Vinicius Dorin, Mauro Rodrigues e Vittor Santos se apresentam no Grande Teatro do Palácio das Artes, acompanhados por uma banda de base formada por dez integrantes, para lançar na cidade o DVD, o CD e o livro de textos e fotos resultantes do projeto “Um Sopro de Brasil”.

No repertório, clássicos da música brasileira, temas de autoria dos músicos participantes e composições feitas especialmente para a ocasião.

Idealizado pela produtora Myriam Taubkin e dirigido por ela, por seu irmão, o pianista Benjamim Taubkin, e por Morris Piccioto, “Um Sopro de Brasil” é a sétima etapa do projeto “Memória Brasileira”, que teve início na década de 80 com a intenção de mapear a música nacional a partir de seus principais instrumentos e representantes.

A primeira focalizou o piano, em 1987, e as seguintes foram dedicadas aos arranjadores (1992), violeiros (1997), percussionistas (1999), sanfoneiros (2002) e violonistas, que foi dividido em duas partes – “Violões” (1989) e “Violões do Brasil” (2004).

O DVD, CD e livro que serão lançados em Belo Horizonte na quartafeira são resultantes de uma maratona de shows, oficinas e exposições realizados no Sesc Pinheiros, em São Paulo, ao longo de novembro de 2004, quando mais de 250 músicos de sopro se revezaram naquele palco.

A seleção dos artistas que participaram foi feita com base na própria experiência de Myriam, que atua na área de produção musical há 30 anos. “Conheço bem a música brasileira e a pesquisa para o ‘Sopros do Brasil’ foi minha própria história, os símbolos que guardo, como as retretas e as manifestações populares. Também tivemos vários consultores, cada um trouxe o seu acervo particular de CDs de sopros”, diz.

Ela conta que, em 2004, foram reunidos representantes de diversas vertentes e vários tipos de formação. “Envolvemos desde uma sinfônica até o caboclinho sete flechas, de Pernambuco, o carimbó, do Pará, e o pífano, da Paraíba. A importância desse projeto está no fato dele ter captado artistas de todo o país em quintetos, sextetos, solos e bandas grandes”, diz.

Ela ressalta que o sentido de coletividade que envolve os instrumentos de sopro é que difere esta etapa das outras anteriores. “Acho que a beleza do sopro está justamente no coletivo, nos timbres, nos naipes e arranjos possíveis. Nessa série pudemos mostrar como instrumentos tão diversos podem timbrar de uma maneira tão interessante e assim contribuir ricamente com a música brasileira”, observa.

Tal riqueza está registrada no DVD, que é duplo e, além das apresentações, capta detalhes dos bastidores, trechos de ensaios, depoimentos de técnicos e artistas e trechos de encontros com o público.

No primeiro disco, que tem 152 minutos de duração, o destaque são as diferentes formações de grupos, incluindo banda sinfônica e manifestações populares, como os grupos de pífanos.

No segundo DVD, que tem mais de duas horas de duração, o foco é direcionado para dez dos solistas que participaram do projeto, do popular Tavares da Gaita à sofisticada Lea Freire. No final, há, ainda, depoimentos dos mestres Moacir Santos e Raul de Souza.

O CD, que reúne 11 faixas que têm à frente boa parte dos solistas que participam do show em Belo Horizonte, é o primeiro de uma série de três que será finalizada até o próximo ano, conforme adianta Myriam.

Este focou os solistas com suas composições, arranjos e maneira de tocar. Todo o resto do material que está por vir é basicamente sobre a união dos sopros, que, como já falei, foi o que mais nos pegou em relação aos projetos anteriores”, destaca.

Todo o registro das apresentações em São Paulo chegou ao mercado com a chancela da gravadora Núcleo Contemporâneo.

O lançamento oficial aconteceu no último mês de maio, no mesmo Sesc Pinheiros, em São Paulo, com show realizado nos mesmos moldes do que vem à Belo Horizonte – segunda cidade do país a receber o projeto.

Acho que o espetáculo é único, um encontro nunca antes realizado de grandes solistas, grandes compositores, muitas músicas inéditas e vários clássicos, como ‘Meditação’, ‘Carinhoso’ e ‘Flor Amorosa’. Todos os arranjos são inéditos e a banda que está acompanhando os instrumentistas de sopro é formada por um time de craques difícil de reunir, gente como o Benjamin Taubkin, o Zeca Assumpção no baixo, o Ari Collares e o Ricardo Moska na bateria e percussão, o Webster Santos no violão, o Rodrigo Campos no cavaquinho e um quarteto de cordas coordenado pela Mayra Moraes”, conta.

Ela adianta que a estrutura do show prevê que os solistas se revezem no palco em diferentes formações. “Vários deles tocam juntos os temas uns dos outros. Na maior parte do espetáculo, o que temos são naipes de sopros, às vezes só com flautas, às vezes com sax, trompete e clarineta”, diz.

Privilégio
O gaitista Maurício Einhorn, 74, 60 deles dedicados à prática profissional do instrumento, se diz muito honrado em poder participar desse projeto.

Estar ao lado de gente como o Paulo Moura e o pessoal da banda Mantiqueira é um privilégio. Já gravei mais de 2.000 vezes acompanhando cantores e cantoras e, como eles são as estrelas, nós, os instrumentistas de sopro, nos sentimos meio que em segundo plano. Com esse projeto, somos lembrados de uma maneira formidável”, declara.

O saxofonista, flautista, compositor e arranjador Mané Silveira, um dos fundadores da Núcleo Contemporâneo, explica que cada solista participante foi convidado a apresentar o tema que quisesse.

No meu caso, compus uma música, chamada ‘A Marcha dos Sons’, especialmente para o evento. Cada um resolveu se iria compor, fazer um arranjo ou o que bem entendesse e depois chegamos, cada qual com sua proposta”, diz.

Ele considera que esse projeto tem uma importância superlativa, na medida em que dá relevo à música instrumental, promove o diálogo entre os artistas e ajuda a divulgar o trabalho de cada um.

Na verdade, quando a gente fala em músicos de sopro, a gente está falando da música instrumental brasileira como um todo. Isso deveria constar no currículo escolar porque acredito que contribuiria para formar cidadãos de uma maneira mais interessante. A arte não é só para quem pratica. É muito importante que, através de projetos como esse, a gente vá fixando no imaginário das pessoas que existe esse tipo de arte, a música instrumental brasileira, que é uma tradição muito rica, que vem do final do século XIX, e ainda não é conhecida pelo grande público”, ressalta.

O flautista, compositor e arranjador mineiro Mauro Rodrigues reforça a importância de “Um Sopro de Brasil” destacando a abrangência do projeto e o intercâmbio que ele promoveu.

Acho que todo mundo que sopra foi incluído e para mim é uma honra estar entre esse pessoal. Foi uma troca muito rica. No final das contas, muitos dos arranjos apresentados incluíam outros instrumentistas de sopro e, com isso, acabamos meio que formando uma orquestra cujos integrantes vão variando ao longo do show. A música que apresento, ‘Firme e Suave’, só tem a minha flauta e o quarteto de cordas, mas tem arranjos que congregam vários solistas, criando diferentes naipes”, antecipa.

O show “Um Sopro de Brasil” está incluído no projeto Música no Museu, da Veredas Produções, e marca os sete anos da iniciativa.

AGENDA - “Um Sopro de Brasil”, quarta-feira, às 21h, no Grande Teatro do Palácio das Artes (av. Afonso Pena, 1.537, centro, 3237 7333). Ingressos a R$ 20 (meiaentrada para estudantes, menores de 21 anos, maiores de 60 e pessoas que doarem 1kg de alimento não perecível).

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