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Estado de Minas
"Sobra talento"
Por: Kiko Ferreira
MG 12/03/2006
Selo Maritaca põe no mercado novos CDs
e relança álbuns preciosos para a MPB
A flautista, compositora, arranjadora e produtora paulista Léa Freire criou, em 1997, um selo de música brasileira que tem tudo para assumir importância de outros produtores de qualidade, como Som da Gente, Kuarup e Núcleo Contemporâneo. Musicista experiente, com correta noção de que ao brasileiro não falta talento, mas organização, ela passou 11 anos em cargos de direção nas áreas financeiras e de informática de uma empresa, até se considerar pronta para tocar a própria gravadora.
A Maritaca que estreou em 1998 com o CD Ninhal (ainda distribuído pelo Núcleo Contemporâneo, de Benjamim Taubkin), chega a 2006 com duas dúzias de discos no catálogo, volume crescente de lançamentos e colocação de álbuns fora de catálogo, além de publicação de songbooks com partituras.
Os pacotes mais recentes dão idéia da variedade e qualidade das obras selecionadas por Léa. Para começar com a dona da bola, vale destacar Teco Cardoso & Léa Freire Quinteto, que está sendo relançado. Gravado ao vivo num estúdio do jazzístico bairro nova-iorquiino Village, em 30 de outubro de 1998, traz os sopros de Léa e Teco Cardoso dialogando com o piano de Taubkin, o baixo de Sylvinho Mazzuca e a bateria de A.C. dal Farra (às voltas com interpretações entre o jazz e a melhor tradição brasileira), em oito faixas que mesclam seis temas de Léa com releituras de Duke Ellington e Coltrane (Giant steps, habilmente fundida com Pena que a vovó não está aqui, de Benjamim Taubkin).
A primeira faixa do disco é Sorriso do Gordo, dedicado ao bom humor do baixista Arismar do Espírito Santo. Além de entrar no cast da Maritaca, ele deu ao mundo um músico de talento, o também baixista Thiago Espírito Santo, seu filho com a pianista Silvia Góes, que demonstra energia de Pastorius e a brasilidade do pai no disco solo que leva seu nome (Thiago). Aberto com uma corajosa fusão de Prelúdio nº 2 do Cravo bem temperado, de Bach, com o Prelúdio nº 3 de Villa-Lobos, o disco tem o frescor da juventude de um músico que sabe o que quer.
Menos conhecido do que merece em seu próprio país, mas respeitado na Europa, para onde se mudou nos anos 1970, o pianista Mozar Terra relançou o belo disco Caderno de Composição, com metade das 12 faixas gravada em 1991 e o resto registrado 10 anos depois. Mozar, que nasceu em Lavras e estava radicado em São Paulo, morreu no início de janeiro, aos 55 anos, de câncer no pulmão, deixando uma obra pequena e significativa. Estava preparando o disco Gafieira Chic, com sambas clássicos reinventados, e deixa registrados, entre participações e trabalhos individuais, a primeira experiência de juntar Beatles e chorinho, nos anos de 1980, e o belo solo O fino do piano, de 1980.
Outro relançamento significativo é o CD Porto dos Casais, do baterista gaúcho Nenê, gravado durante a temporada recente em que viveu em Minas, esse disco revelou dois talentos da nova geração da música mineira, o baixista Enéas Xavier e o guitarrista Magno Alexandre. Itiberê Zwarg é outro que está no elenco da Maritaca, com O Calendário do Som. Quem é fã do bruxo se lembra que, entre 1996 e 1997, Hermeto Paschoal compôs 336 temas, cada um dedicado a um dia do ano, e lançou livro com as partituras. Itiberê, no comando da Itiberê Orquestra, passou dois anos ensaiando, arranjando e gravando 27 desses temas.
A safra recente da Maritaca inclui, ainda, Terra Amantiquira, novo disco da Banda Mantiqueira. No novo disco eles fazem mistura cheia de sustânça que vai de Pixinguinha e Jacob do Bandolim a João Bosco, Guinga e Joyce, Pixinguinha e Jacob estão ao lado de Jobim e Moacir Santos no disco do jovem Trio Corrente, formado por Fábio Torres (piano), Paulo Paulelli (baixo acústico) e Edu Ribeiro (bateria). Com três temas próprios entre as 10 faixas, o trio é aprovado com louvor no teste da estréia. Em certas passagens, soam como um Zimbo Trio de sotaque moderno. Com sua reluzente careca a la Marcos Valério na capa, o pianista e percussionista Alex Buck evoca raios noturnos para estrear na composição com Luz da Lua, reunindo a seleção de alguns dos melhores músicos do selo.
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