Revista Música Brasileira
O espírito imprevisível de Arismar
por:
Daniel Brazil

outubro 2006

Arismar do Espírito Santo é um nome consagrado no meio musical brasileiro. Como acontece com muitos músicos profissionais, não é um nome conhecido do público radiofônico e televisivo. Craque de muitos instrumentos e inúmeros estilos, está por trás de muita gente boa que toca e canta por aí, nos melhores palcos e estúdios do país.
Não é raro ver o Arismar enfiado numa roda de choro, tocando de forma toda própria um violão de 7 cordas. Muito o reconhecerão ao vê-lo empunhando um baixo elétrico, com grupos de formação mais jazzística. Hermeto já excursionou muito com ele, e o considera um dos melhores baixistas do planeta. Também pode ser lembrado como acompanhante de grandes cantoras, como Jane Duboc, Joyce, Fátima Guedes ou Leny Andrade. Ou tocando com feras do porte de Paulo Moura, João Donato, Heraldo do Monte, César Camargo Mariano, Paquito D’Rivera, Lenine, Toninho Horta, Cristóvão Bastos, Leandro Braga, Eduardo Gudin, Roberto Sion, Sivuca, Dominguinhos, Maurício Carrilho, Dori Caymmi, George Benson, Edsel Gomes, Laércio de Freitas, Banda Mantiqueira e mais uma extensa lista.

Não basta? Pois Arismar também é considerado um dos melhores guitarristas brasileiros, além de ser um caso sério na bateria ou no piano. Um assombro, que todos agora podem conferir no seu novo disco, Foto do Satélite (Maritaca, 2006). São composições próprias, onde a musicalidade flui solta, derrubando todas as fronteiras de estilo e ritmo.

Arismar experimenta diversas formações, convidando músicos de origens variadas. Consegue com isso uma ampla gama de sonoridades, onde surpresas surgem a cada nova faixa. Que dizer de um disco que inicia com um “samba donateado” de piano, baixo, bateria e naipe de sopros, para logo depois apresentar uma lírica composição onde a flauta de Léa Freire paira como uma sílfide, embalada pelo violão? Como comparar a beleza da canção sem palavras entoada por Jane Duboc, acompanhada só pelo piano, com a quebradeira do bebop (samba santista, segundo Arismar) “Tidinho”, onde sax e trumpete duelam furiosamente?

Pra se ter uma idéia, não precisei pinçar faixas para escrever o parágrafo acima. São apenas as quatro primeiras do disco. Tem mais doze, uma mais provocante que a outra. E Arismar tira o máximo de nomes como Proveta, Dominguinhos, Bia Góes, Vinicius Dorin, Daniel DAlcântara, Michel Leme, Alex Buck e o baixista Thiago Espírito Santo, filho e discípulo talentoso.
Foto de Satélite é uma salada musical que ora lembra Hermeto, ora lembra uma boa gafieira, ora os metais incendiários de Meirelles & Copa 5, alternando-se com momentos mais calmos e acústicos. Um disco de música universal com tempero brasileiro, para ser ouvido de forma atenta por qualquer que aprecie ver a invenção musical ser bem executada.

<  voltar  -  topo   


© Revista Música Brasileira