Uma das artistas mais queridas e admiradas de São Paulo, a flautista Léa Freire demonstra cada vez mais porque é também considerada das grandes compositoras brasileiras em atividade.
Sua formação clássica é notada no acabamento perfeito de seu artesanato sonoro. Seu envolvimento com as diversas formas da música popular brasileira completa a receita: uma delicada simbiose sonora que se expressa de forma magnífica nas diversas faixas do CD Cartas Brasileiras (Maritaca, 2007).
Léa tem vasta discografia, e demonstrou sua versatilidade em inúmeras gravações e parcerias. Suas preciosas gravações com o trombonista Bocato, Antologia da Canção Brasileira, vol. 1 e 2, lançadas em 2005, estão entre o que de melhor se produziu na música instrumental brasileira neste século.
Esta relação afetiva com a canção se traduziu em parcerias com Joyce, por exemplo, ou acompanhando vozes como as de Alaíde Costa, Marlui Miranda, Leny Andrade, Celso Viáfora e Elton Medeiros. Suas composições soam, muitas vezes, como canções sem palavras, com melodias sofisticadas e, ao mesmo tempo, assobiáveis. Mas a riqueza de sua escrita se espalha também por choros, valsas, toques jazzísticos e sinfônicos, mesclas de gêneros, invenções indefiníveis onde a beleza reina absoluta.
Além de inspirada compositora, Léa é também instrumentista requisitada e desenvolve atividades pedagógicas, além de dirigir o selo Maritaca, que fundou em 1997. Sentiu ali a necessidade de criar uma editora, pois como ela diz, música também é escrita, é partitura. O capricho gráfico é de dar gosto, e se estende ao primoroso encarte de Cartas Brasileiras, em que Léa apresenta, de próprio punho, cada faixa.
Produzido por seu velho parceiro Teco Cardoso, o novo CD conta com a participação do maestro Gil Jardim e mais uma galáxia de astros cintilantes: Proveta, André Mehmari, Paulo Belinatti, Isaías do Bandolim, Israel Bueno de Almeida, Luca Raele, Guello, Toninho Carrasqueira, Walmir Gil, Daniel DAlcântara, Alceu Reis, Mônica Salmaso, Felipe Sena, Edu Ribeiro e mais um monte de craques. Os shows de lançamento do disco no Auditório Ibirapuera, em maio deste ano, contaram com cerca de 50 músicos, e deixaram o público fascinado.
Léa Freire se firma, cada vez mais, como herdeira da grande tradição brasileira que vem de Nazareth, e passa por Villa-Lobos e Tom Jobim, atenta a todas as fontes. De cada um desses a compositora parece ter extraído o sumo. Inspiração, talento e uma enorme capacidade agregar excelentes músicos à sua volta, construindo um resultado coletivo onde sua criação aflora, exuberante. Léa é uma lição de música!