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Theo de Barros

Por: Mariana Sayad e João Marcondes
Abril 2007

Um senhor violonista, compositor e arranjador

Sem a menor sombra de dúvida, Theo de Barros é um membro muito importante da nossa cultura. A entrevista dele é uma aula de história da música popular, começando com uma das maiores revoluções dentro da música instrumental, que foi o grupo Quarteto Novo (que ele fez parte) até a composição, junto com Geraldo Vandré, da música Disparada.

A entrevista com Theo de Barros aconteceu na casa dele e foi realmente uma aula para nós tanto de história da música, quanto de humildade. Confiram agora, alguns trechos da entrevista com esse grande violonista.

Mariana Sayad


Nome completo: Theófilo Augusto de Barros Neto.
Data de nascimento: 10 de março de 1943
Local de nascimento: Rio de Janeiro.
Desde de 1954, reside em São Paulo.
Entrevista realizada no dia 05/11/2004.

Vozes da Música Instrumental
Fale um pouco sobre a sua formação musical.


Theo de Barros
Meu pai era diretor da rádio Tupi do Rio e minha mãe trabalhava em rádio também. Então, o pessoal se reunia para tocar lá em casa, com violão, cavaquinho, acordeom. Eu fui criado mais ou menos nesse ambiente. Num belo dia um vizinho nosso me deu um violãozinho de presente. Eu comecei assim, fui aprendendo com aquelas pessoas, que freqüentavam a casa.

Quando eu voltei para São Paulo, eu não tinha um círculo de amizade. Então o violão ficou sendo meu companheiro. Foi aí que eu desenvolvi mais. Eu passei quase toda a adolescência mais estudando violão, que outra coisa.

VMI - Quais são suas principais influências?

TB - O Brasil tem duas escolas principais de violão. Uma é do Baden Powell, que é conhecido. E tinha uma outra de um outro violonista, que era do Luiz Bonfá. Eu gostava mais dele, eu achava um violão mais suave, mais tranqüilo. Eu gostava mais da harmonia do violão. Eu desenvolvi uma escola, que trata do violão como se fosse uma harpa, tirando um som mais doce e harmonioso do violão. Eu fui desenvolvendo isso sozinho. Na escola normal de violão, você toca quatro dedos da mão direita e eu uso cinco. Então, fui me habituando a isso. As pessoas achavam até feio, que era um vício. Mas era uma maneira de tocar uma corda a mais, de tirar um acorde um pouco mais cheio. Isso foi se desenvolvendo na minha cabeça e não criei escola nenhuma. É um som de violão que me agrada.

VMI - Eu só queria confirmar uma informação. Em 1963 foi quando o senhor lançou seu primeiro disco?

TB - Em 63? Eu tive um sucesso, Menino da Laranja, como compositor, gravado pela Elis Regina. Mais ou menos nessa época eu fiz um compacto simples, cantado, mostrando duas músicas. Não foi tocando. Este primeiro disco eu fiz na Eldorado em 81. Foi um álbum duplo, era um Long Play. Iam lançá-lo em CD agora, mas não sei o que aconteceu.

VMI - No grupo Sexteto Brasileiro de Bossa, o senhor tocava baixo?

TB - Não. O Sexteto Brasileiro de Bossa foi um conjunto que eu montei. Tinham dois músicos profissionais e os outros eram amadores. Foi um conjunto que eu montei para inventar o que fazer. Nós montamos um repertório e estreamos no João Sebastião Bach, mas o grupo mesmo durou pouco tempo, um ano, coisa assim.

VMI - E isso foi em que ano?

TB - Isso deve ter sido em 64 e 65.

VMI - Como foi o seu encontro com a Elis Regina e com o Geraldo Vandré?

TB - Nós fazíamos parte do meio, então, esses encontros não eram muito difíceis. Aqui em São Paulo, nos anos 60, nós fizemos uma série de reuniões, as chamadas reuniões de bossa, para incrementar a Bossa Nova aqui em São Paulo, estimular os compositores a compor e animar um pouco. O cenário estava meio baixo por aqui. Estava muito focalizado no Rio.

Todo sábado tinha uma reunião na casa de alguém. Juntava um monte de gente. Tocava música e trocava idéia. Era um bate-papo. Essas reuniões depois passaram para o teatro. Teatro de Arena, Teatro do Mackenzie, Teatro Paramount. E foi aí que a televisão chegou, viu que dava público e foi o grande estouro da música no país. Nessa época, nós tínhamos vários programas de televisão falando de música brasileira. E também aconteceram os festivais e tudo o mais. O Vandré, eu sempre conheci. Nessas reuniões nós estávamos sempre junto.

Eu fui convidado para fazer parte de um conjunto, que seria o Trio Novo. Nós íamos acompanhar desfiles da Rhodia, que tinha um estande muito grande e bonito. Todo ano ela inventava uma moda. Esse ano eles queriam fazer um som brasileiro. Porque naquela época o que você tinha em termos de trio era piano, baixo ou bateria tocando jazz ou bossa nova. A sugestão da propaganda foi que nós lidássemos com um som mais brasileiro, com viola caipira, percussão... Esse tipo de coisa.

E aí foi surgindo a idéia de montar esse Trio Novo, que era o Airto Moreira, o Heraldo do Monte e eu. Fizemos a Fenit (Feira Internacional da Indústria Têxtil) e fomos andar pelo Brasil. Numa dessas andanças abriram as inscrições do Festival da Record. O Vandré tinha uma letra mais ou menos pronta e nós resolvemos fazer uma música e inscrever. Fizemos a primeira apresentação e começamos a viajar com a Rhodia. Deixamos um grupo substituto aqui.

Eu soube da notícia do festival quando nós estávamos em Natal, Rio Grande do Norte. Nós não participamos do negócio da Disparada. Nós soubemos lá. E depois, na volta, com a Disparada abrindo um novo caminho em termos de música, convidamos o Hermeto Pascoal para fazer parte do conjunto, que era nosso grande sonho. Então, montamos o Quarteto Novo. Ficamos um ano montando o repertório. Gravamos um disco, um compacto simples também. E o Quarteto Novo foi considerado o melhor conjunto instrumental nos dois anos, que esteve ativo. Depois, o Airto teve que ir para os EUA e o conjunto ficou meio balançando.

No fim, acabou se dissolvendo por falta de trabalho. O Hermeto era casado, o Heraldo também. Eu era solteiro, então para mim, tudo bem. Mas era o nosso ganha-pão que estava em jogo. Embora nós fôssemos o melhor conjunto do Brasil, não tínhamos tanto trabalho assim.

VMI - E qual foi a importância do Quarteto Novo?

TB - Para mim foi um marco em termos de realização instrumental e é algo que depois do Quarteto Novo eu não montei mais nada. Para mim havia acabado. O Hermeto foi para frente, o Nenê foi para frente. Montaram outros grupos. Mas eu me considerei satisfeito. Foi uma coisa que me realizou muito. Não era uma coisa que esgotava a gente. Então, para mim foi muito bom.

VMI - Como foi a pesquisa para a série “Música Popular do Centro-Oeste/Sudeste”?

TB - É, esse foi um trabalho bem bonito porque nós recebemos, na época, cerca de 1500 fitas vindas só dessa região. Mas a coisa era meio desorganizada, não havia muita coerência, cada autor falava uma coisa. Às vezes, eles colocavam um pedacinho da partitura e em três livros estava aquela mesma melodia com três gêneros diferentes. Era difícil e se ficava meio perdido. Então, eu procurei dar uma ordem nisso.

VMI - Quanto tempo durou essa pesquisa?

TB - Uns 8 meses, por aí. Envolvia o centro-oeste... Hoje é Tocantins, Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas, São Paulo e Rio. Essa é uma região complicada pela desorganização. O folclore nordestino é mais fácil, o do Sul é mais fácil e Norte. A bibliografia é mais bem definida. Aqui era uma bagunça, eu não entendia direito. E nós demos uma pequena organizada nisso, que ajudou.

VMI - Atualmente, este material está disponível em algum lugar?

TB - Quando o pessoal inutilizava isso, geralmente jogava fora, não aproveitava tudo. Aí era perdido. Tem uma falha apenas, nessa coleção, que eu procurei defender até o fim, mas a minha idéia não foi bem aceita, que era de ter incluído o canto indígena. Eu acho que devia fazer parte disso aí. Mas o índio, naquela época, não tinha a relevância que tem hoje com os movimentos ecológicos.

VMI - O senhor chegou a trabalhar na Odeon?

TB - Cheguei.

VMI - E quanto tempo?

TB - Eu fazia mais produções autônomas. Produzi Dick Farney . Na nossa profissão, você tem que inventar trabalho. Eu dava aula de violão, fazia direção musical de teatro, montava grupo, fazia um monte de coisa. Uma dessas coisas era produzir disco. Foram produções bem feitas. Isso foi no tempo que a Odeon ainda tinha um escritório aqui em São Paulo, depois eles passaram tudo para o Rio. Aí nós ficamos órfãos aqui. Quase sem gravadora para um tipo de música mais sofisticado.

VMI - E qual o seu interesse em ser arranjador?

TB - Isso desde criança que eu gosto do som de violino e dessas coisas. E quando eu voltei para São Paulo, onde tinha aqueles programas com os círculos de amizade. Eu ouvia muito rádio e comprava muito disco. Eu sempre gostei de arranjo. Eu prestava muita atenção nos discos dos cantores, do que tinha por trás. Então, eu fui aprendendo devagarzinho. E é uma coisa que eu gosto muito de fazer. Arranjo é uma forma de composição. Você entra como um co-autor da música. Procura extrair a beleza que ela cabe. Eu acho muito bonito o trabalho. E você lida com vários tipos de música. Você inventa o que você quiser. Gosto muito de fazer.

VMI - Você chegou a estudar para arranjo ou orquestração?

TB - Cheguei a estudar. Eu já tive professores e tenho muito livro. Mas foi mais quebrando a cara em estúdios e vendo o que funcionava e o que não. Isso no tempo que no Brasil ainda não havia faculdade de música. Depois de velho, eu tentei fazer faculdade de música, mas fiquei dois anos. Não agüentei ver tudo de novo, então, eu saí. Mas eu continuo estudando isso. Não paro nunca.

VMI - A vontade de ser arranjador vem influenciado pela geração construída, principalmente, na era dos festivais, sobre arranjadores e pessoas ligadas como o Léo Peracchi e o Radamés Gnatalli ou isso já é antigo?

TB - Já veio antigo. Eu cheguei a ter aula com o Léo Peracchi inclusive. Mas isso já está dentro da gente. É uma coisa que não sei explicar. Eu sei que desde criança eu adoro som de corda. É uma coisa gratuita. Pode ser influência dos discos, que nós ouvíamos lá em casa, que eram grandes orquestras americanas, trilha de filme e concertos. Lidar com um orquestra é muito cativante, apaixonante.

VMI - No violão, o senhor aplica algumas técnicas de arranjo? O violão é um instrumento orquestrador, onde você pode trabalhar várias idéias.

TB - Eu faço arranjo usando piano. O arranjo do violão é do violão mesmo. Por outro lado, muitas coisas que eu descubro fazendo arranjo no piano eu trago para o violão. Mas eu não uso o violão como instrumento. O Dom Costa, por exemplo, um arranjador famoso, só fazia arranjo através do violão. É muito difícil eu fazer isso aí. Eu geralmente faço no piano com o computador. E o violão eu já deixo só para o violão mesmo. Muitas vezes, coisas de voz, que eu faço arranjo, eu transporto para o violão. Mas são separados, são compartimentos distantes. É difícil para eu juntá-los. Usar o violão como princípio seria para mim muito mais fácil, mas não sei.

VMI - Como foi o seu trabalho como arranjador Dick Farney?

TB - Para Dick Farney eu fiz poucos arranjos. Eu estava começando a fazer. Inclusive foi a época que eu estava tendo a aula com o Léo. Eu já escrevia. Claro, não tem nada de complicado. São músicas simples, gostosas de se fazer arranjos. Mas eu acho que fiz dois ou três arranjos, não fiz muita coisa. Eles usavam mais o pessoal da Odeon mesmo. Parece que o pessoal que fez era contratado da Odeon. Tinha o Geraldo Vespar no Rio. Teve um outro rapaz chamado Julio (Supomos que seja o Júlio César de Figueiredo), não me lembro do sobrenome dele. Mas era um pessoal mais contratado. Eu era tipo freelancer, eu fazia quando deixavam.

VMI - O senhor atuou quanto tempo como diretor musical de teatro? Como foi isso?

TB - É aquele negócio que eu estava explicando: procurar trabalho para ganhar dinheiro. Com isso, eu trabalhei um bom tempo no Arena. Fui diretor musical do “Arena Conta Zumbi”. Tem uma peça que tem só com música minha, que não foi encenada no Brasil por causa da censura. Chama-se "Arena Conta Gorila". E não foi levada até hoje, não sei por quê. Só foi levada lá fora. Eu trabalhei uns 4 ou 5 anos no Arena. Quero dizer, trabalhava um ano, aí saía, depois voltava...

Depois também fiz direção musical com o Flavio Rangel. Dirigi um musical chamado "Capital Federal", do Artur de Azevedo. Também uma peça chamada "Abelardo e a Heloisa", que era música do Carlos Lyra. É gostoso fazer direção musical. Eu procurava explorar todas as facetas do ofício de música. Então, eu queria conhecer um pouco de tudo. Eu acho que toda experiência é válida, tudo enriquece. Tem certas coisas, como direção musical de teatro, que você não vai querer fazer pelo resto da vida. O que eu gostaria de fazer é o que eu estou fazendo hoje: compor e fazer arranjo. É uma opção mesmo. Em todo o caso, você conhece pessoas, troca informações e aprende sempre alguma coisa. Igual ensinar as pessoas a cantarem e a dançarem, é muito interessante.

VMI - Como foi a gravação do seu primeiro disco?

TB - O Marcus Pereira tinha um sócio que era o Aluízio Falcão. Eles tinham uma agência de publicidade e resolveram dar discos, no fim do ano, para os clientes. Eles arrumaram a verba do Ministério da Cultura e aí virou uma gravadora profissional, onde iam fazer essas coleções.

Depois o Marcus Pereira, infelizmente, morreu e o Aluízio foi para a Eldorado. Eu trabalhava na Eldorado em publicidade, no Estúdio Eldorado. Ele foi para a Rádio Eldorado. O Aluízio então, teve uma idéia de montar um selo. Eu estava lá quando o selo foi montado e participei do primeiro disco, que foi do Carlos Poyares. Participei de diversas outras produções. O Aluízio me deu carta branca para fazer o meu disco. Quando sobrava espaço no estúdio, nós íamos lá e gravávamos. Nós levamos um ano e pouco. Era um álbum duplo, que seria um CD completo hoje. Eu acho que é um disco totalmente anticomercial, pois era caro. Como eu gravei muito pouco na minha vida, eu tentei definir como um pintor faz, compor fases. Então, são dois discos, quatro lados e cada qual seria uma fase na parte de composição. O disco saiu, mas infelizmente, não saiu em CD. Vamos ver se ainda sai.

VMI - Quem participou da gravação desse disco?

TB - Muita gente, porque esse disco tem faixa que é uma orquestra completa. Tem coral. É um disco bem variado. Foi um trabalho muito grande.

VMI - Como é sua parceria com o Paulo César Pinheiro?

TB - Nesse disco aí (Theo) já tem o início dessa parceria, que é de 81. Nós somos parceiros desde 76, eu acho. Inclusive, eu voltei a compor agora mais por insistência dele e acabou saindo este disco novo pela Maritaca. Desde 76. Nós já fizemos muita coisa. Estamos fazendo um projeto agora sobre capoeira.

Eu vou pouco ao Rio, então é uma parceria por telefone. Quando ele tinha fax, o negócio funcionava. Agora que o fax quebrou, ficou mais difícil porque nós quase não trabalhamos com computador. Eu não gosto de internet também. Nós estamos parados por causa do fax mesmo. Vamos ver se retoma. Mas temos muita coisa já.

VMI - Esse repertório com Paulo César Pinheiro tem algum gênero específico? Porque o Paulo César Pinheiro tem uma tradição mais para samba... Ou esse CD é mais variado?

TB - Ele é bem variado. Nós estamos com um projeto para fazer um disco sobre capoeira. Tem um outro projeto que vamos fazer sobre marujada ou canções de mar, que já está pronto. Seriam dois CDs temáticos. Enquanto estamos fazendo isso, surgem outras coisas, já apareceu até o como fado no meio. Ele às vezes tem uma idéia lá, eu aqui e as coisas vão saindo.

VMI - Sobre composição, o que o senhor está se dedicando mais atualmente? Como funciona o seu processo de composição, é mais baseado em idéias ou é mais calcado em inspiração?

TB - Ultimamente eu estou seguindo um conselho que o Paulo Mendes Campos me deu. Ele dizia: "Eu escrevo todos os dias, durante 15 minutos ou meia hora, sobre qualquer coisa. Só para ter a prática da escrita na mão." Eu estou fazendo o mesmo. Todo o dia eu tento fazer alguma coisa. Claro que há dias que não sai absolutamente nada. Caso haja inspiração, ela ocorre independente disso. Se acho alguma coisa legal, eu a desenvolvo. Geralmente é no piano. E eu não toco piano, eu só uso para orquestrar. Às vezes, à noite, eu pego o violão um pouco e sai alguma coisa. Eu estou exigindo de mim, todo dia, uma disciplina, fazer um ofício. Não fico esperando a inspiração, vou atrás dela.

VMI - Como foi a gravação do seu novo CD?

TB - Isso foi um convite que a Léa (Freire) me fez. Foi trabalhoso porque tem orquestra. Tem tudo. Levou-se mais ou menos um ano para fazer o CD. Ela me deu toda a liberdade, eu pude fazer o que eu queria, levei o tempo que eu quis e não tive qualquer tipo de pressão. Foi uma maravilha o que eu fiz. Eu fiz uns três discos na vida, mas todos sem pressão. Estamos procurando agora, para esse CD, um espaço que não temos mais, que é na mídia. Essa parte está difícil. Já em relação à crítica, foi muito bem recebido. Eu só tenho a agradecer.

VMI - Houve boatos, uns anos atrás, sobre o retorno do Quarteto Novo. Qual sua opinião sobre o assunto?

TB - Todo ano aparece alguém querendo montar. Eu não acho tão difícil isso retornar. Mas acho que se precisa de dinheiro. Nós também teríamos que lembrar de todos os arranjos, o que leva um tempo. Outra alternativa seria fazer um outro repertório, que também demandaria um tempo muito grande. O problema maior é a disponibilidade financeira de cada um.

VMI - O que o senhor acha da nova geração de músicos?

TB - Eu acho que eles têm toda essa herança cultural que nós deixamos, mais a influência que vem de fora. Essa nova geração conseguiu pegar isso tudo e utilizar bem. Eu sou muito convidado a ser jurado em festival e tenho me surpreendido sempre. A faculdade de música também os orienta melhor. Eu vejo com muita esperança.

VMI - Para o senhor, qual é o futuro da música instrumental brasileira?

TB - Eu sou formado em jornalismo e o profissional dessa área se preocupa mais em ler e escrever. De uns 30 anos para cá, tem-se dado muita importância à letra e eu sinto que o nível da música declinou muito. Inventou-se um chavão, que diz que quando a letra é boa a música é boa, que eu acho totalmente errado. Eu acho que a qualidade musical das composições, desceu muito, a qualidade literária está uma maravilha. A música acaba servindo de bandeja para tratar de sociologia e de teses.

A música instrumental não tem letra, então ela foi por um caminho totalmente livre. A música instrumental brasileira está impressionante. Os músicos que nós conhecemos só têm feito música boa, eles são respeitadíssimos. Ficaram livres, não tiveram essa prisão que a mídia acaba forçando no negócio da letra. Estamos com especialistas como o Hermeto, Arismar, Vinícius Dorin, gente que chega aos Estados Unidos e deixa todo mundo de boca aberta. Eles ficaram totalmente livres, eles não têm esse vínculo com a letra. O futuro é o que eu gostaria de ver depois disso. E já estamos num nível altíssimo. Chega num ponto que já não uma música popular, é uma música elitista, meio fora. Não é de apego popular. Eles evoluíram muito.

Um instrumental, em comparação com a composição em letra da música brasileira, a música instrumental está muito melhor, musicalmente. Eu acho que nós ainda estamos presos com a satisfação boba. Eu acho que a música não pode servir apenas para isso, não deve servir de carruagem para a letra. Eu acho que seria perfeito se desse 50% de importância para cada um. E hoje você vê que a letra tem 90% de importância. A música às vezes é uma bobagem. Houve um descuido da parte da composição musical, na parte literal, não. Está avançadíssimo, é difícil até de acompanhar, inclusive.

Obrigada Theo!

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