Correio Braziliense
- 18/05/2005
"As jóias da Maritaca"

Por: Hélio Franco

Há duas décadas, instrumentistas brasileiros tinham que tomar rumo do exterior e batalhar contrato com algum selo europeu para gravar seus discos. O grande Egberto Gismonti é exemplo desta situação. Com o disco Feito em casa, o maestro Antonio Adolfo apontou o caminho da salvação: a independência. Agora, é por essa via que a música instrumental brasileira segue, eternizando-se por meio de imprensas como a Maritaca, gravadora paulistana essencialmente dedicada à música sem palavras.

Na nova fornada da
Maritaca, chegam quatro álbuns que demonstram a diversificação e a qualidade da nova música instrumental nacional: Fruto (da pianista Heloísa Fernandes), Revoada (do saxofonista Vinicius Dorin), Auto-retrato (do percussionista Caito Marcondes) e Antologia da canção brasileira - Vol. 1 (do trombonista Bocato com a flauta de Léa Freire). A técnica refinada e o alto grau de profissionalismo dos músicos são a marca registrada de todos, bem como o extenso currículo dos artistas.

Bocato, por exemplo, tocou ao lado de
Arrigo Barnabé e Itamar Assumpção antes de participar do disco / Show Saudades do Brasil, de Elis Regina, e engatar frutífera carreira como acompanhante de medalhões da MPB ou liderando sua própria banda. Com Léa Freire, produziu mostra com dez belos clássicos brasileiros que soa original até nas versões das canções mais conhecidas, como Folha morta (Ary Barroso), As rosas não falam (Cartola) e Luz negra (Nelson Cavaquinho / Amâncio Cardoso).

Caito Marcondes também é dono de invejável folha de serviços de 35 anos como instrumentista, compositor e arranjador que inclui trabalhos ao lado de
Hermeto Pascoal e John Scofield, entre outros. Gravou ao vivo seu novo álbum solo, uma coleção de composições marcadas por idéias e timbres inusitados, com participação das cantoras Mônica Salmaso e Marlui Miranda.

Já o saxofonista, flautista e pianista Vinicius Dorin trabalha com
Hermeto Pascoal desde 1993 e chega agora com o primeiro álbum solo, com nove faichas compostas por ele e versões para Violão vadio (Baden Power / Paulo Cesar Pinheiro) e Viciando (Hermeto Pascoal), além de Serpente, do pianista André Marques, que participa do CD. De forte acentuação jazzística, sugere uma grande jam session onde cada instrumentista teve liberdade para atingir a maior expressividade possível. Em vários momentos, Vinicius evoca a aura do inesquecível John Coltrane.

Heloísa Fernandes também estréia em disco, mas com tal domínio do piano que parece veterana de estúdio. De formação erudita, foi finalista do
Prêmio Visa de Música Brasileira, edição instrumental, em 2001, e desenvolve intensa agenda de apresentações. Compositora inspirada, também imprime sensíveis e muito peculiares interpretações às versões de Rosa (Pixinguinha / Otávio de Souza) e Trilhos urbanos (Caetano Veloso).


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