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Music News - Coluna do Assis
Uma noite de graça e prazer...
por: Assis Ângelo
16.05.2007
Uma noite de graça e prazer com a repentista da flauta Léa Freire,
sob a batuta do craque ouriense Gil Jardim. Inesquecível
O domingo que passou, gostoso até na temperatura outonal, foi de inteiro relaxamento; de libertação, mesmo, e festa para ouvidos e almas insuspeitos, cansados ou presos pela banalidade musical que se vê nos canais de tevê e se ouve nas estações de rádio espalhados nos quadrantes do Pais, incluindo Sampa. Essa libertação, talvez em lembrança ao dia 13, de Isabel e dos negros, se deu pela beleza e graça do concerto a cargo do diretor artístico e titular da Orquestra de Câmara da Universidade de São Paulo, USP, Gil Jardim, que levou à cena e ao prazer geral da platéia, no Auditório Ibirapuera, parte da obra recente da flautista, compositora e arranjadora Léa Freire, também presente e à vontade no palco, ao lado dos convidados especiais Paulo Bellinati (violão 6 cordas), Izaias Bueno de Almeida (bandolim), Israel 7 Cordas (violão), Paulo Braga (piano), Mané Silveira (saxofone), Guello e Zezinho Pitoco (percussão), Zé Alexandre Carvalho (contrabaixo), Daniel d´Alcântara (trompete), Paulo Malheiros (trombone) e Celso Almeida (bateria). Léa esteve impecável nas intervenções feitas com sua flauta mágica naquela noite deste maio, inesquecível sob todas as vistas. Os aplausos lhe foram poucos e mais do que merecidos, incluindo os do fim da apresentação que duraram uma eternidade, com a platéia de pé e tudo, em êxtase. O maestro por sua vez subiu ao palco para surpreender logo nos primeiros momentos e acordes, ao arrancar dos músicos o melhor deles para canções como Saudade do Brasil, de grande melancolia na pauta original do autor Jobim, chamado de "maestro soberano" pelo imbatível Chico Buarque.
Após a primeira surpresa, outra: a segunda passagem da Sinfonia da Alvorada composta para Brasília por Tom e Vinicius, entre fins dos 50 e começo dos 60 do século ido, intitulada O Homem. Nessa parte, o louvor espontâneo dos criadores da Alvorada à força humana e da natureza no processo que resultou na capital do Brasil é a tônica. Sem tirar nem pôr. Em seguida, e com invulgar beleza, o que se ouviu foi uma enxurrada de preciosas peças assinadas pelo talento da flautista, com arranjos desenvolvidos em colaboração com o maestro Gil e os músicos Proveta, Tiago Costa, Mozart Terra e Luca Reale. As músicas Isabella, Maré, Domingo de Manhã e Bis a Bis encantaram por sua singeleza e pela sensibilidade à pele da autora, somadas à competência e firmeza do regente no comando da orquestra. O sambinha Rabisco, bem delineado e gracioso mostrado na metade do concerto, arrepiou arrancando imediato entusiasmo da platéia; o mesmo se dando com Nove Luas, Espiral, Choro na Chuva e Caminho das Pedras. Pixinguinha ficaria radiante. Vento Madeira, resultante da mistura de um punhado de ritmos nordestinos, fechou a noite com chave de ouro. A meu lado, a produtora cultural Andréa Lago não se continha e dividia comigo seu entusiasmo, pois há tempos contou não ter assistido nada igual. Um DVD foi gravado, nos informou o "jardineiro do Ibirapuera", Pena Shimidt.
Bom que se espalhe pela cidade e alcance a até aqui pífia programação das emissoras de rádio e TV. Chega, aliás, a ser absurdo que não se conheça por exemplo o trabalho de Gil Jardim, arranjador de discos de Gilberto Gil, Naná Vasconcelos, Milton Nascimento, Ivan Lins e outros.
Pena que o grande público desconheça suas regências à frente de orquestras em Londres, Nova Iorque e Roma. Pena que se desconheça a obra de Léa Freire, que para gravar seus discos teve que criar um selo próprio, a Maritaca, de altíssimo nível e gerador de produtos que trazem nomes que vão de Arismar do Espírito Santo, Bocato e Teco Cardoso a Théo de Barros, Zé Barbeiro, Cláudio Celso e Zeli. Não sabe quem são? Pois está mais do que na hora, agora, de conhecer essa gente, que faz música de verdade e anda nos rastros de Léa. Também não sabe direito quem é Léa? Léa Freire é artista de talento genial, que começou a gravar discos em 1997, há dez anos. Pois é, já era para saber de quem se trata... Antes de escolher a flauta transversal como seu instrumento principal, Léa Freire passeou por teclados de piano e pratos de bateria, depois deu aulas de violão e solfejo na escolinha do Zimbo Trio. Como o maestro Gil, ela transita com incrível desembaraço pela música erudita e pela música popular, transformando a música erudita em popular e a música popular em erudita. Uma dica: acesse www.maritaca.art.br e mande recado pelo
. Vale a pena.
Fui!
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