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"MPB - Sopro Elegante"
por Beto Feitosa
abril de 2005

Sopros unidos pela elegância da música
Léa Freire e Bocato lançam o primeiro volume de uma rica antologia

Uma coleção de boas músicas. Elegantes arranjos para trombone e flauta baixo. Dois músicos de talento, inspiração e respiração nobres na linha de frente. Uma banda à altura para acompanhar. Esse breve resumo traz o conceito do CD Antologia da canção brasileira volume 1 que Bocato (trombone) e Léa Freire (flauta baixo) estão lançando.

Mas o trabalho vai além. De tão bonito, é até difícil de ser descrito. Se a música brasileira é um dos maiores tesouros do país, nesse CD ela está representada com jóias de alguns de nossos maiores compositores.

De Tom Jobim resgataram a pouco lembrada Andorinha, gravada pelo maestro em seu disco de 1970, Stone flower. De 1983 lembram Blue note, parceria de Fátima Guedes e Filó Machado gravado por ela no LP Muito prazer, ainda inédito em CD. Também apresentam Imagens, de Luiz Eça e Aloysio de Oliveira e Boa noite, amor de José Maria de Abreu e Francisco Mattoso.

No meio do caminho passam pelas conhecidas porém pouco regravadas Nossos momentos (Haroldo Barbosa e Luiz Reis) e Neste mesmo lugar (Klecius Caldas e Armando Cavalcante). Já de Cartola ficaram com a clássica As rosas não falam, de Lupicínio Rodrigues escolheram Nunca, de Ary Barroso interpretam Folha morta e de Nelson Cavaquinho Luz negra. Mas nem quando a seleção parece óbvia o CD perde seu encanto. Os arranjos dão novos fôlegos e revitalizam obras que já estão cristalizadas no inconsciente coletivo.

O andamento das canções é sempre lento, o que de início assustou a flautista Léa Freire, que confessa no texto da contra-capa: "Tocar lento é difícil, nada passa despercebido, nada pode ser à toa, tudo tem que ser na medida". Nenhum problema para os dois. Os arranjos são de uma emocionante riqueza harmônica e transformam essa antologia em uma verdadeira aula. A bateria tocada com vassoura no início de Nunca é de uma beleza ímpar e lembra um cuidado musical que pouco se ouve hoje em dia.

O grande valor do disco está justamente nesse delicado e difícil minimalismo. Além dos dois músicos, apenas um nobre quarteto formado por Sizão Machado (baixo), Michel Freidenson (piano), Djalma Lima (guitarra) e Edú Ribeiro (bateria) dão vida para as canções.

Felizmente a idéia não vai parar aí. Como o próprio título dá a entender, outros volumes podem completar essa biblioteca que não tem fim. Léa Freire e Bocato prometem testar novas formações dentro desse conceito. A criatividade é quem manda, já que o repertório não tem fim.

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